RESILIÊNCIA
DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO ENFRENTAMENTO DO NOVO CORONAVÍRUS- UMA REVISÃO
TEÓRICA
RESILIENCE
OF HEALTH PROFESSIONALS IN COPING WITH THE NEW CORONAVIRUS- A THEORETICAL
REVIEW
RESILIENCIA
DE LOS PROFESIONALES SANITARIOS PARA AFRONTAR EL NUEVO CORONAVIRUS- UNA
REVISIÓN TEÓRICA
Maria Berenice Gomes Nascimento1
Marcelo Costa Fernandes2
Silvia Carla Conceição Massagli3
Rafaelle Cavalcante de Lira4
Fabiana Ferraz Queiroga Freitas5
1Doutora em Ciências da Saúde FMABC. Docente da
Universidade Federal de Campina Grande-UFCG/CFP. E-mail:
berenice_pinheiro@hotmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2095-4832
2Doutor pelo Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos
em Enfermagem e Saúde-UECE. Docente da Universidade Federal de Campina
Grande-UFCG campus Cajazeiras. Líder do Grupo de Pesquisa Laboratório de
Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde - LATICS/UFCG/CNPq. E-mail: celo_cf@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1626-3043
3Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (FEUSP). Professora Adjunta da Universidade Federal
da Fronteira Sul (UFFS - Laranjeiras do Sul). E-mail:
silvia.conceicao@uffs.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3608-4261
4Doutora em Ciências (Fisiopatologia Clínica e
Experimental) pela UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Docente da
Universidade Federal de Campina Grande-UFCG campus Cajazeiras. Professora
pesquisadora do Grupo de Pesquisa Laboratório de Tecnologias de Informação e
Comunicação em Saúde - LATICS/UFCG/CNPq. E-mail: rafaellelira@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0360-1157
5Doutora em
Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais. Docente da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG), Líder e pesquisadora do Grupo de Pesquisa e
formação de Comunicação em Saúde LATICS/UFCG/ CNPQ. E-mail:fabianafqf@hotmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7374-1588
RESUMO
Objetivo: Discutir a resiliência de profissionais de saúde no
enfrentamento do novo coronavírus, a partir de um estudo teórico-reflexivo. Metodologia: Refletir a partir de um
olhar do construto teórico da
resiliência delineado pela autora Yunes as situações adversas experienciadas
pelos profissionais da saúde que estão cuidando de pacientes com COVID-19. Os depoimentos
foram extraídos de telejornais entre os meses de março e abril de 2020. Resultados: A pandemia do coronavírus
trouxe graves consequências para os profissionais da atenção à saúde, assim
despertando a necessidade de minimizar impactos na saúde mental destes. Apreende-se
que os fatores de riscos evidenciados externam o medo de contrair a doença,
falta de equipamentos de proteção individual, bem como o medo de morrer e
deixar os filhos ou ainda serem agentes transmissores da doença. Conclusão: A condição observada gera
ansiedade, angústia, revelando a necessidade e importância dos profissionais da
saúde também serem cuidados, para que ao final dessa jornada estejam com a
saúde mental preservada.
Palavras-chave: Infecções por Coronavirus. Pessoal de Saúde. Resiliência Psicológica. Saúde mental. Impactos na Saúde.
ABSTRACT
Objective: To discuss
the resilience of health professionals in facing the new coronavirus, based on a theoretical-reflective
study. Methodology: To reflect from the perspective of the theoretical construct of resilience outlined by the author Yunes on the adverse situations experienced by
health professionals who are caring for patients with
COVID-19. The testimonies were taken
from newscasts between March and April 2020. Results: The coronavirus pandemic
had serious consequences
for health care professionals, thus awakening the need to minimize impacts on their mental health. It is apprehended
that the risk factors evidenced externalize the fear of contracting the disease, lack of personal protective equipment, as well as the fear of dying and leaving their children or even being transmitting agents of the
disease. Conclusion: The condition observed
generates anxiety, anguish,
revealing the need and importance of health professionals to also be cared for, so that at the end of
this journey they have their mental health preserved.
Keywords: Coronavirus Infections. Health Personnel. Resilience, Psychological. Mental Health. Impacts on Health.
RESUMEN
Objetivo: Discutir la resiliencia de los profesionales de la salud ante el nuevo coronavirus, a partir de un estudio
teórico-reflexivo. Metodología: Reflexionar desde la
perspectiva del constructo teórico de resiliencia
planteado por el autor Yunes, las situaciones
adversas vividas por los profesionales de la salud que atienden
a pacientes con COVID-19. Los testimonios fueron tomados de noticieros
entre los meses de marzo y abril de 2020. Resultados: La pandemia de coronavirus tuvo graves consecuencias para
los profesionales de la salud, despertando así la necesidad de minimizar los impactos en su
salud mental. Se aprehende que los factores de riesgo evidenciados externalizan
el miedo a contraer la enfermedad, la falta de equipo de protección
personal, así como el miedo
a morir y dejar a sus hijos o incluso ser agentes transmisores
de la enfermedad. Conclusión: La condición
observada genera ansiedad,
angustia, revelando la necesidad e importancia de que los profesionales de la salud también sean atendidos, para que
al final de este recorrido tengan preservada su salud mental.
Palabras chave: Infecciones por Coronavirus. Personal de salud. Resiliencia Psicológica. Salud mental. Impactos en la Salud.
INTRODUÇÃO
Em dezembro de 2019, em Wuhan, província Hubei, na China, pacientes exibiram sintomas de pneumonia, incluindo febre, dificuldade de respiração e infiltração pulmonar bilateral nos casos mais graves, semelhante ao quadro clínico apresentado pelo SARS-CoV e MERS-CoV(1). Após análise do sequenciamento de amostras do trato respiratório, evidenciou-se a presença de um novo tipo de betacoronavírus, que foi nomeado pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV) como SARS-COV-2 e a doença como a COVID-19(2-3).
Trata-se de uma doença com rápida transmissibilidade entre indivíduos que podem ser sintomáticos ou não, cujos surtos podem crescer rápida e exponencialmente, por isso a necessidade de uma testagem em massa para saber o real cenário epidemiológico da doença(4).
A pandemia da COVID-19 está ocasionando prejuízo enorme para indivíduos, famílias, comunidades e sociedades em todo o mundo, provocando quadro de ansiedade na população, por ainda não ter conhecimentos precisos sobre o comportamento da doença e não existir medicamentos efetivos para tratamento e a vacina ainda não é acessível para todos. Portanto, a medida de segurança mais adotada mundialmente para o controle da transmissão é o isolamento social, momento que pode intensificar os sentimentos de desamparo, tédio, solidão, tristeza, distúrbios do sono e apetite, além de conflitos interpessoais(5).
Em meio a pandemia do novo coronavírus, um grupo de trabalhadores da saúde se coloca na linha de frente ao enfrentamento da COVID-19, entre eles, destacam-se: médicos; enfermeiros; técnicos e auxiliares de enfermagem; fisioterapeutas, entre outros. Das mais diversas localidades, seja no sistema público como no privado, todos buscando cuidar dos doentes e com a preocupação sobre a capacidade dos sistemas de saúde para lidar com a demanda de uma doença de rápida disseminação.
Já é conhecida a preocupação acerca do déficit em relação aos números de leitos nas Unidades de Terapias Intensivas e de ventiladores mecânicos para o cuidado das insuficiências respiratórias causadas pela infecção, condição que gera ainda mais pressão, tensão e estresse nos profissionais que atuam na linha de frente. Porém, é necessário avaliar as condições que os profissionais de saúde se encontram para exercer a suas atividades(6).
Os profissionais da saúde também enfrentam crises de ansiedade, pela falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) ou pressão por parte da chefia imediata; estresse, por ter que atender tantos pacientes e conviver diariamente com números elevados de mortes pela COVID-19; medo de se infectar ou levar a doença para os familiares; ambivalência por parte da população (vizinhos, amigos) que os aplaudem, mas os discriminam, evitando contato; depressão pela solidão, afastamento das famílias, morte dos companheiros de trabalho; e exaustão ou esgotamento emocional com o volume de trabalho(5,7).
Além disso, muitos profissionais lidam com as adversidades no seu cotidiano de trabalho, contando com a proteção do seu ambiente e suas potencialidades para seguir em suas trajetórias de vida, sendo a superação das adversidades e das crises explicada pelo processo de resiliência. Um conceito que é muito discutido, tratando-se de um fenômeno ao longo do ciclo vital que se refere a um conjunto de processos de vida que possibilita o enfrentamento e a superação de situações de sofrimento. Dessa forma, a resiliência vai além da superação, pois ocorre também, como consequência, o desenvolvimento positivo e fortalecimento individual ou coletivo, resultando em um processo de aprendizagem e transformações pessoais(8).
Nesse contexto de excepcionalidade em decorrência do novo coronavírus, os telejornais apresentam importância imprescindível para a população por serem importantes espaços de compartilhamento de informações à sociedade, de forma a demonstrar de maneira acessível e ágil um retrato dinâmico das situações sanitárias que envolvem o cenário da contemporaneidade, tanto a nível internacional quanto nacional.
Estes espaços de divulgações ganharam maiores destaques nos últimos meses por demonstrarem coberturas diárias do cenário epidemiológico da pandemia da COVID-19, apresentando em sua grade de programação boletins diários com dados de casos confirmados, recuperados e óbitos.
Além dos dados epidemiológicos, os telejornais vêm apresentando também entrevistas com profissionais da saúde que estão inseridos nos cuidados às pessoas com COVID-19, com intuito de exibir e compartilhar as situações de adversidades que estes profissionais estão diariamente passando em seus locais de trabalho.
Diante do exposto, levando em consideração o contexto atual da pandemia da COVID-19 em que muitos profissionais de saúde encontram-se na linha de frente do enfrentamento, surge a seguinte inquietação: como situações de adversidades vivenciadas por profissionais da saúde repercutem no enfrentamento ao novo coronavírus a partir de um olhar da resiliência?
Por se tratar de uma doença nova, ainda sem medicação específica e com uma vacina em fase inicial, fato este que mexe também com a saúde mental de muitas pessoas, o estudo se torna relevante por analisar a relação entre os mecanismos de risco e proteção para resiliência. Nesse sentido, a investigação auxiliará a gestão em saúde e a educação permanente, pois se torna possível implementar programas que visem fortalecer as estratégias de enfrentamento diante das adversidades, refletindo as formas individuais e coletivas de estimular a positividade realista em seu cotidiano pessoal ou profissional.
Ao considerar as particularidades da temática e a relevância do estudo, esse estudo objetivou discutir a resiliência de profissionais de saúde no enfrentamento do novo coronavírus, a partir de um estudo teórico-reflexivo.
MÉTODO
Trata-se de um estudo teórico-reflexivo, tendo por base livros e artigos que demonstrem os conceitos envolta do construto teórico resiliência debatido por Yunes, em específico: fatores de risco e de proteção, tendo como balizador para a realização das intelecções que subsidiam o estudo os sentidos presentes nos relatos, observados em entrevistas de telejornais, dos profissionais que estão na linha de frente ao combate à COVID-19.
Escolheu-se quatro telejornais de circulação nacional e com reportagens de livre acesso e disponibilizados online em seus respectivos sites, a citar Jornal Nacional, G1 Globo, Veja Online e Rede TV News. As entrevistas acontecerem entre os meses de março e abril de 2020, com enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem, entre outros profissionais. A coleta de dados ocorreu ao longo do mês de maio de 2020.
Para a obtenção das entrevistas, utilizou-se GoogleÒ Notícias e as palavras-chave: profissionais da saúde; relatos e COVID-19. Foi adotado como critério de inclusão das entrevistas, as que apresentavam os depoimentos de profissionais inseridos no cenário da atenção terciária; inseridos em alas COVID, em especial Urgência/Emergência e Unidade de Terapia Intensiva, por serem setores críticos e de elevada complexidade. Excluíram-se as entrevistas de profissionais que abordavam somente as características biológicas do vírus, transmissibilidade, infectividade e principais sinais e sintomas da doença.
As falas foram extraídas a partir das reportagens disponibilizadas de livre acesso no ambiente virtual. Em relação aos aspectos éticos e legais, não ocorreu envolvimento direto com seres humanos, já que as reportagens são de domínio público. Logo, não houve a necessidade de aprovação por um Comitê de Ética em Pesquisa para a sua realização.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Resiliência: o desafio de ressignificar
experiências no contexto de adversidade
Vive-se num mundo complexo e de muitas incertezas que a COVID-19 potencializou inseguranças, trazendo novas exigências e demandas comportamentais e emocionais para os indivíduos. Toda mudança traz ansiedade, medo, inquietações e desconforto. Como lidar com esses sentimentos, tendo em vista que se enfrenta algo muito novo na sociedade e que os fatores de riscos são tão fortuitos?
A resiliência
pode ser um caminho para se refletir as possibilidades de enfrentamento de
adversidades e atribuir novos sentidos para as situações conflituosas que são
impostas. Ao se tratar do termo resiliência, adota-se
neste estudo a perspectiva da pesquisadora Maria
Angela Mattar Yunes como referência nacional sobre a temática.
O termo resiliência traz um conjunto de polifonia impressa por vários autores. No que concerne a este trabalho, partiu-se das investigações dos cientistas adeptos da Psicologia Positiva de Martin Seligman, que tem consolidado suas pesquisas nos últimos 20 anos no cenário internacional. A Psicologia Positiva é um movimento acadêmico que ressignifica aportes da Psicologia tradicional a partir de sua busca em compreender cientificamente os aspectos potencialmente saudáveis dos seres humanos. Dentre os pressupostos da Psicologia Positiva é possível citar a necessidade de desconstruir e reconstruir crenças e concepções pessimistas de agentes sociais que demonstram dificuldades em lidar com os problemas da vida diária e incentivar aspectos de sua própria proteção psíquica e que objetivam aliviar o sofrimento(9- 10).
O termo resiliência vem da Física e se refere a capacidade de materiais retornarem ao seu estado natural, depois de sofrer um grande impacto. Na psicologia o conceito de resiliência, ganha destaque com o surgimento da Psicologia Positiva a partir de 2001(10). Rogers, seu principal representante, afirma que o sujeito tem a capacidade de autoatualização, em um processo dinâmico de desenvolvimento emocional e comportamental. Este processo visto como intencional, ou seja, cada indivíduo é capaz de tomar suas próprias decisões, distanciando-se do determinismo psíquico próprio do behaviorismo. Para Yunes há a necessidade de defender a ideia de se ter um enfoque científico nos aspectos emocionais-comportamentais do sujeito(11).
Segundo a autora, o processo de resiliência não significa a invencibilidade ou invulnerabilidade, nela o indivíduo enfrenta de forma ativa as adversidades e ao término da situação ele não sairá ileso, possibilitando ao ser humano enfrentar e responder às adversidades da vida cotidiana de forma positiva. Quando se fala de resiliência há a necessidade de se ter cautela para não naturaliza o uso deste termo(11-13).
Faz-se necessário reconhecer o contexto no qual o indivíduo está inserido. Mesmo que a ciência reconheça que o processo como presente em qualquer ser humano e que este processo não é inato, o modo como as pessoas percebem e enfrentam suas adversidades são diferentes.
A base do desenvolvimento da resiliência se constitui no mecanismo que contemplam os fatores de risco e os fatores de proteção. Os fatores de riscos são compreendidos como os eventos negativos de vida que incidem na vulnerabilidade da pessoa e ocasionar resultados negativo no desenvolvimento físico, psíquico ou social, a depender da severidade, frequência e duração(13).
Sobre os mecanismos de proteção, eles atuam para minimizar ou evitar os impactos dos fatores de riscos, possibilitando que os indivíduos alcancem as soluções para melhorar ou alterar as situações adversas enfrentadas no seu cotidiano. Em suma, a resiliência seria o resultado entre os fatores de riscos e os mecanismos de proteção, no qual o indivíduo não elimina os riscos apenas encontra uma forma de engajar na situação e enfrentá-la com eficácia. Para que o indivíduo seja resiliente deve existir um equilíbrio ou combinação entre os fatores de risco e de proteção(13).
Fatores de risco e fatores de proteção
vivenciados pelos profissionais da saúde no contexto da covid-19
Diante os relatos dos profissionais da saúde presentes nos telejornais, os fatores de risco evidenciados enaltecem o medo de contrair a doença perante função que exerce e a falta de EPI’s, bem como o medo de caso contraia a doença venha a morrer e deixar os filhos ou ainda ser agente transmissor da doença. Condição que além da ansiedade gera angústia frente a incapacidade de auxiliar os colegas no processo do cuidar, externando a necessidade e importância de também serem cuidados, para que ao final dessa jornada estejam com a saúde mental preservada.
A pandemia da COVID-19 trouxe graves consequências a vida e saúde mental da população. Frente o cenário de pandemia mundial, os profissionais de atenção à saúde, em especial os que atuam nos serviços de referência, encontram-se em maior grau de exposição por passar a maior parte do tempo ao lado dos pacientes com diagnóstico médico confirmado de COVID-19. O que desperta a necessidade e importância em cuidar de quem cuida, a fim de minimizar impactos negativos na saúde mental desses profissionais.
Com vistas a garantir uma boa saúde mental, em um cenário de pandemia mundial, que agressivamente acomete os estados brasileiros, reverberando em grandes exigências e responsabilidades, diante da ausência/limitação de planejamento para enfrentar condições de pandemia que suprime o agir profissional conferindo-lhes risco à saúde mental desencadeando sofrimento psíquico que afeta o processo de trabalho e repercute no cuidado ofertado, é importante atentar e minimizar os ricos.
Esses profissionais estão separados de seus familiares, relatam medo de contágio, precarização da estrutura de trabalho e incertezas dos prognósticos, sendo, portanto, essencial a resiliência para superar as sensações, com repercussão na saúde mental, provenientes da pandemia.
Os estados brasileiros enfrentam tempos preocupantes e estressantes, por deparar-se com uma condição nova de estresse elevado, que impossibilitou planejamento prévio de enfrentamento, não é conhecida uma vacina ou droga que assegure a eliminação do vírus, como são desconhecidas às implicações futuras a saúde e sociedade, decorrentes dessa pandemia. Incerteza, que compromete o planejamento de vida futuro, causando altos índices de estresse, sobretudo naqueles que atuam na linha de frente do processo de cuidado.
Esta realidade apresenta a necessidade de desempenhar o processo de trabalho pautado na resiliência. Sendo importante compreender os pontos positivos e as condições protetoras que auxiliam o agir profissional em condições adversas, como na realidade complexada da pandemia da COVID-19, capazes de permitir equilíbrio e motivação profissional. Assim, a resiliência é compreendida como processo que constitui o ciclo vital do sujeito, onde suas relações e contexto de vida impulsionam a positividade do enfrentamento e resposta as condições de adversidade(8).
A resiliência está fundamentada em fatores de risco e de proteção. Quanto ao enfrentamento dos fatores de risco apresentados, é essencial que os profissionais desenvolvam elementos que auxiliem no enfrentamento da vulnerabilidade ao distúrbio da saúde mental, a fim de fortalecer o processo de trabalho dos sujeitos estabelecendo fatores de proteção que auxiliem no enfrentamento das adversidades, conferindo sentido a realidade vivenciada.
Dentre os fatores de proteção é possível construir ou potencializar sentidos positivos diante o cenário da pandemia da COVID-19, com espiritualidade, fé, bom-humor, otimismo e apoio mútuo(14), o que facilita o desenvolvimento de aprendizagens e potencialidades, ajudando no enfrentamento dessa nova realidade mundial.
A espiritualidade e fé auxilia no enfrentamento positivo das adversidades, conferindo utilidade ao momento vivido, enaltecendo os sentimentos de ajuda e utilidade a vida do próximo; o bom-humor e otimismo é um mecanismo de proteção que fortalece os sentidos de satisfação e identificação pelo trabalho desenvolvido; e o apoio mútuo facilita a busca por soluções, tanto individual quanto em equipe, diante das dificuldades e o desenvolvimento da resiliência(14).
Essas sensações caracterizam-se reações esperadas, diante situação ameaçadora e imprevisível, como essa pandemia(15), podendo alterar a concentração dos profissionais de atenção à saúde, além de causar irritabilidade, ansiedade e insônia, reduzindo a produtividade e ampliando a ocorrência de conflitos(16).
Os fatores de risco presentes no ambiente de trabalho podem proporcionar implicações negativas ao processo de trabalho, interferindo no cuidado ofertado, gerando repercussões psicológicas aos profissionais que passam a apresentar sensações de ansiedade, angústia, sofrimento, impotência, desestímulo e frustação, sensações que afetam negativamente a saúde e bem estar do profissional, ocasionando perda de sentido pelo trabalho diante a condição acentuada de sobrecarga, estresse, tensão e esgotamento(14).
Enquanto que diante dessas sensações, fatores de proteção traz sentidos positivos ao trabalho, fortalecendo o processo de resiliência, que permite o enfrentamento da condição e risco, com transformação da realidade antes evidente, sendo possíveis mudanças de comportamento que potencializa o cumprimento rigoroso das medidas de higiene pessoal e ambiental, bem como a utilização de EPIs, a fim de ser possível uma menor disseminação da doença, além do agir diante de toda a equipe de cuidado e atenção à saúde, como casos positivo ou suspeita do COVID-19.
CONCLUSÃO
Considerando que estamos vivemos um momento atípico da história da humanidade por conta da pandemia da COVID-19, é de se esperar a vivência de sentimentos como ansiedade, medo, preocupação, incertezas, raiva e insatisfação, dentre outros. Os profissionais da saúde que estão na linha de frente no enfrentamento desta doença encontram-se neste turbilhão de sensações. Eles são expostos cotidianamente a fatores de risco, como a falta de equipamentos de EPIs e contato com doentes, representando um perigo permanente. Tudo isso ecoa na saúde mental.
Atuar na linha de frente de uma pandemia envolve uma grande solicitação técnica e emocional, com mudanças no modelo de trabalho, carga de trabalho extenuante, aumento do risco de contaminação, manejo de grande número de casos graves e óbitos, separação física da família e dos amigos por tempo incerto. São mudanças drásticas nunca vividas anteriormente.
A resiliência vista como o desenvolvimento de processos relacionais mostrou-se satisfatória neste contexto de adversidades ocasionada pela COVID-19 em profissionais de saúde da linha de frente. Viver nestes locais de trabalho já é uma forma constante de exercício da resiliência.
Os profissionais da saúde na linha de frente do combate à COVID-19 precisam reinventar e reinterpretar as situações adversas o tempo todo, desta forma é possível garantir um equilíbrio entre os fatores negativos e positivos e fortalecer a saúde mental.
REFERÊNCIAS
1. Gralinski LE, Menachery
VD. Return of the Coronavirus: 2019-nCoV. Viruses. [on-line]. 2020; [citado em 13 de jun 2020] 12(2):135. Disponível em: https://www.mdpi.com/1999-4915/12/2/135/htm.
2. Cui J, Li F, Shi Z-L. Origin and evolution of pathogenic coronaviruses. Nat RevMicrobiol. [on-line]. 2019 [acesso em 02 de jul 2020];
17(3):181–92. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41579-018-0118-9.
3. Lai
C-C, Shih T-P, Ko W-C, Tang
H-J, Hsueh P-R. Severe acute
respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) and corona virus disease-2019
(COVID-19): the epidemic and the challenges. Int J Antimicrob
Agents. [on-line]. 2020
[acesso em 03 de jul 2020]; 55 (3): e105924. DOI https://doi.org/10.1016/j.ijantimicag.2020.105924
4. Medved IV, Souza GJ, Biliu KS, Guirra PSB, Almeida VC. Atuação do Enfermeiro Residente na
Testagem Rápida para COVID-19: um relato de experiência. Health Residencies
Journal-HRJ. [on-line]. 2020 [acesso em 29 de jul 2020];
1(2):88-99. Disponível em: https://escsresidencias.emnuvens.com.br/hrj/article/view/31.
5. Humerez DC, Ohl RIB, Silva MCN. Mental health of brazilian nursing professionals in the context of the covid-19 pandemic: action of the nursing federal council. Cogitare enferm. [on-line]. 2020 [acesso em 04 de ago 2020]; 25. DOI : http://dx.doi.org/10.5380/ce.v25i0.74115
6. Tavares V. A saúde dos que estão na linha de frente. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/EPSJV/Fiocruz. [on-line]. 2020 [acesso em 8 jun 2020]. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/a-saude-dos-que-estao-na-linha-de-frente.
7. Weide JN, Vicentini ECC, Araújo MF, Machado WL, Enumo SRF. Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia. PUCRS/PUC-Campinas. [on-line]. 2020 [acesso em 10 de ago 2020]. Disponível em: https://portal.coren-sp.gov.br/wp-content/uploads/2020/04/Cartilha-PsiCOVIDa.pdf.
8. Yunes MAM. Dimensões conceituais da resiliência e suas interfaces com risco e proteção. In: Murta SG, França CL, Santos KB, Polejack L, organizadores. Prevenção e promoção em saúde mental: fundamentos, planejamento e estratégias de intervenção. Novo Hamburgo: Synopisis. 2015; 93-112.
9. Piske EL, Bersch AAS, Yunes MAM. Children’s Perceptions of the Relational and Educational Practices at Shelter Institutions. In: Dell'Aglio D., Koller S. (eds) Vulnerable Children and Youth in Brazil. Springer, Cham. 2017; 1: 191-210. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-319-65033-3_13
10.
Seligman
MEP. Positive psychology, positive prevention, and positive therapy. In. Snyder
CR, Lopez SJ. (Org.). Handbook of positive psychology. New York: Oxford University Press. [on-line]. 2002
[acesso em 12 de ago 2020]; 3-9. Disponível em: https://psycnet.apa.org/record/2002-02382-001.
11.
Yunes MAM. Psicologia positiva e
resiliência: o foco no indivíduo e na família. Psicologia em
Estudo,
Maringá. [on-line]. 2003 [acesso em 15 de ago 2020]; 8(spe): 75-84. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-73722003000300010
12.
Martineau S. Rewriting resilience: a critical discourse analysis of childhood resilience
and the politics of teaching resilience to "kids at risk" [tese].
United States (USA): The University of British Columbia;1999.
13.
Yunes MAM, Szymanski H. Resiliência: noção, conceitos afins e
considerações críticas. Em J.Tavares (Org.), Resiliência e educação. São Paulo:
Cortez. [on-line]. 2001 [acesso em 03 de ago 2020];13-42. Disponível em: https://www.psiquiatriageral.com.br/psicossomatica/resiliencia_nocoes_conceitos.htm
14.
Costa IP, Moreira DA, Brito MJM. Meanings of work: articulation
with mechanisms of risk and protection
for resilience. Texto contexto - enferm. [on-line].
2020 [acesso 02 de jun 2020]. 29: e20190085. DOI: https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2019-0085
15. Ventura-Silva JMA, Ribeiro OMPL, Trindade LL, Nogueira MAA, Monteiro MAJ. International year of the nursing and the pandemic of covid-19: media expression. Cienc. Cuid. Saúde [on-line]. 2020 [acesso em 14 de set]; 19: e55546. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/cienccuidsaude.v19i0.55546
16. Vinkers CH, Amelsvoort TV, Bisson JI, Branchi I, Cryan JF, Domschke K et al. Stress resilience during the coronavirus pandemic. European Neuropsychopharmacology. [on-line]. 2020 [acesso em 27 de jun 2020]; 35:12–16. DOI: https://doi.org/10.1016/j.euroneuro.2020.05.003
Submissão: 2021-07-07
Aprovado:
2021-12-28