VISITA GUIADA À MATERNIDADE: PERFIL DAS GESTANTES E ENTENDIMENTO DOS TEMAS ABORDADOS
GUIDED TOUR TO MATERNITY: PROFILE OF PREGNANT WOMEN AND UNDERSTANDING THE TOPICS COVERED
VISITA GUIADA A LA MATERNIDAD: PERFIL DE LA EMBARAZADA Y COMPRENSIÓN DE LOS TEMAS TRATADOS
Laynara dos Santos Nunes1
Raylla Araújo Bezerra2
Jéssica Cunha Brandão3
Nicolle Porto Coelho4
Anne Fayma Lopes Chave5
Mônica Oliveira Batista Oriá6
Dafne Paiva Rodrigues7
1Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5354-5563
2Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2781-7817
3Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7049-9036
4Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6930-2144
5Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7331-1673
6Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1483-6656
7Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8686-3496
Autor correspondente
Raylla Araújo Bezerra
Rua Professor Costa Mendes, 684, Montese, Fortaleza, CEP: 60.416-200. Telefone: +55(85) 98615 4391. E-mail: lalah_zinha3@hotmail.com.
RESUMO
Objetivo: Identificar o perfil de gestantes participantes da visita guiada e analisar a aprendizagem dessas mulheres acerca dos temas abordados. Método: Trata-se de um estudo descritivo realizado com 60 gestantes que participaram da visita guiada em um hospital público durante o ano de 2019. As gestantes responderam um questionário estruturado. Os dados foram organizados e processados no SPSS, versão 23.0. Resultados: Os dados revelaram um perfil sociodemográfico predominante de gestantes de 20-35 anos (81,7%), casadas (43,3%), que concluíram o ensino médio (43,3%), com renda familiar de até um salário mínimo (46,7%). No que se refere aos dados obstétricos, 34 gestantes não tinham filhos vivos e estavam na primeira gestação (56,7%). Quanto à gravidez planejada, 33 gestantes (55%) não haviam planejado. Das gestantes que participaram da visita, 59 gestantes (98,3%) indicariam a visita para outras pessoas. Em relação ao esclarecimento das dúvidas, a totalidade da amostra pesquisada afirmou ter suas dúvidas sanadas. Conclusão: Por meio deste estudo, foi possível identificar o perfil das gestantes que participaram da visita guiada e constatar que foi uma experiência positiva, contribuindo para o entendimento das mulheres acerca de temas relevantes no ciclo gravídico-puerperal.
Palavras-chave: Gestantes; Educação em Saúde; Aprendizagem; Enfermagem; Maternidades.
ABSTRACT
Objective: To identify the profile of pregnant women participating in the guided tour and to analyze the learning of these women about the topics covered. Method: This is a descriptive study carried out with 60 pregnant women who participated in the guided visit at a public hospital during the year 2019. The pregnant women answered a structured questionnaire. Data were organized and processed in SPSS, version 23.0. Results: The data revealed a predominant sociodemographic profile of pregnant women aged 20-35 years (81.7%), married (43.3%), who completed high school (43.3%), with a family income of up to one salary minimum (46.7%). With regard to obstetric data, 34 pregnant women had no live children and were in their first pregnancy (56.7%). As for the planned pregnancy, 33 pregnant women (55%) had not planned. Of the pregnant women who participated in the visit, 59 pregnant women (98.3%) would recommend the visit to other people. Regarding the clarification of doubts, the entire sample surveyed claimed to have their doubts resolved. Conclusion: Through this study, it was possible to identify the profile of the pregnant women who participated in the guided visit and to verify that it was a positive experience, contributing to the understanding of women about relevant topics in the pregnancy-puerperal cycle.
Keywords: Pregnant Women; Health Education; Learning; Nursing; Hospitals; Maternity.
RESUMEN
Objetivo: Identificar el perfil de las gestantes participantes de la visita guiada y analizar el aprendizaje de estas mujeres sobre los temas abordados. Método: Este es un estudio descriptivo realizado con 60 gestantes que participaron de la visita guiada en un hospital público durante el año 2019. Las gestantes respondieron un cuestionario estructurado. Los datos fueron organizados y procesados en SPSS, versión 23.0. Resultados: Los datos revelaron un perfil sociodemográfico predominante de gestantes de 20 a 35 años (81,7%), casadas (43,3%), con estudios secundarios completos (43,3%), con renta familiar de hasta un salario mínimo (46,7%). ). Con respecto a los datos obstétricos, 34 gestantes no tenían hijos vivos y se encontraban en su primer embarazo (56,7%). En cuanto al embarazo planeado, 33 gestantes (55%) no lo habían planeado. De las gestantes que participaron en la visita, 59 gestantes (98,3%) recomendarían la visita a otras personas. En cuanto a la aclaración de dudas, la totalidad de la muestra encuestada afirmó tener sus dudas resueltas. Conclusión: A través de este estudio, fue posible identificar el perfil de las gestantes que participaron de la visita guiada y verificar que fue una experiencia positiva, contribuyendo a la comprensión de las mujeres sobre temas relevantes en el ciclo gestante-puerperal.
Palavras clave: Embarazadas; Educación para la Salud; Aprendiendo; Enfermería; Maternidad.
INTRODUÇÃO
A saúde da mulher sempre obteve destaque entre as prioridades governamentais de saúde, devido ao seu importante papel na família e na sociedade. Tal fato pode ser confirmado por ser uma temática em foco nos objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda de 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Todavia, uma preocupação recorrente com este público se dá pelas diversas situações de risco e vulnerabilidades que, quando relacionadas ao período gestacional, pode refletir na morbimortalidade materna(1).
Nesse contexto, entende-se que a assistência pré-natal adequada deve garantir não somente profissionais capacitados, mas dispor meios e recursos que possibilitem uma assistência de qualidade, em que seja assegurada a continuidade do atendimento, com a finalidade de proporcionar uma gestação saudável, tanto para mãe quanto para o bebê.
Visando a melhoria das ações de atenção à saúde materna e neonatal, como a humanização do atendimento, parto e nascimento, o Governo Federal criou a Rede Cegonha, que consiste em uma rede articulada para melhor atender as necessidades da mulher no ciclo gravídico-puerperal e da criança até o segundo ano de vida. Desse modo, a Rede Cegonha proporciona estratégias para garantir uma assistência de qualidade à mulher e à criança, com acolhimento e práticas humanizados(2).
O direito à vinculação e conhecimento prévio da instituição em que ocorrerá o parto oportuniza às gestantes ambientar-se com a unidade hospitalar e com as condutas adotadas pela instituição para um parto humanizado, promovendo também a aproximação entre profissionais e gestantes, contribuindo para a promoção de uma assistência humanizada(3).
A efetivação da atenção humanizada preconizada pela Rede Cegonha, além do fornecimento de recursos, organização de rotinas e procedimento benéficos à mulher e à criança, depende da conduta adotada pelos profissionais durante o acolhimento. Portanto, para que a rede atinja os objetivos propostos, faz-se necessário que a sociedade civil, profissionais da saúde e poder público trabalhem conjuntamente(4).
As visitas guiadas atendem à proposta da Rede Cegonha, com o intuito de impactar na redução nos índices de cesariana, que ainda atinge um percentual de 56%, muito acima do desejável e recomendado pela Organização Mundial de Saúde (15%)(5). Esse impacto inicialmente, em curto prazo, pode se efetivar com um espaço de educação em saúde destinado às gestantes nas maternidades em que estas são vinculadas para o parto, como uma oportunidade de evitar sua peregrinação e desmitificar o parto normal junto as mesmas, já que na sociedade em geral, muitas mulheres ainda são culturalmente sugestionadas que o parto normal está associado ao sofrimento e maior risco de agravos para o binômio mãe e filho(6).
O referido estudo trata da visita guiada conduzida pelo Hospital Municipal Dr. João Elísio de Holanda, e nesta ocasião, as gestantes têm a oportunidade de conhecer as dependências do local, passando pelo Banco de Leite, Emergência Obstétrica, Alojamento Conjunto e Quarto Pré-parto, Parto e Pós-parto (PPP), além de participarem de uma roda de gestantes, espaço destinado para esclarecimentos quanto aos sinais de trabalho de parto, parto, amamentação, cuidados com o recém-nascido e puerpério, dentre outros temas de interesse das gestantes, como os direitos que lhe assistem.
Neste sentido, as visitas guiadas com grupos de gestantes funcionam como uma estratégia educativa e de promoção de cuidado à mulher pela equipe multiprofissional, que visa estabelecer o apoio necessário a esta, principalmente no ciclo gravídico puerperal, fornecendo benefícios na assistência ao parto, informações acerca dos direitos das mulheres e do local em que vai parir, como também maior interação entre pacientes, profissionais e acadêmicos, criando um elo de confiança entre a gestante e a equipe, proporcionando uma assistência de qualidade em que priorize a satisfação da mulher e que transmita segurança e conforto no momento do parto.
Para tanto faz-se necessário conhecer as gestantes que têm participado das visitas guiadas, suas necessidades e aprendizagem com esta experiência. Logo, a relevância deste estudo consiste em contribuir para o conhecimento das características dessa população, promovendo uma assistência de qualidade na gestação, reorientando a prática para as necessidades deste público e conduzindo-a de forma efetiva e eficaz.
O objetivo da pesquisa consistiu em identificar o perfil de gestantes participantes da visita guiada e analisar a aprendizagem dessas mulheres acerca dos temas abordados nessa visita.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, envolvendo gestantes que realizavam acompanhamento pré-natal nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Maracanaú e que participaram da visita guiada no Hospital Municipal de Maracanaú, Ceará. Esse hospital é uma unidade integrada ao Sistema Único de Saúde, sendo caracterizado como uma unidade pública de médio porte e de nível de complexidade secundária. O hospital conta com um Centro de Parto Normal (CPN), que faz parte do projeto Rede Cegonha, e realiza visitas guiadas com as gestantes em parceria com o projeto de extensão – Visita guiada às gestantes: estratégia de cuidado clínico a mulher no ciclo gravídico-puerperal – vinculado ao Grupo de Pesquisa de Saúde da Mulher e Enfermagem – GRUPESME, da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
A coleta ocorreu no período de janeiro de 2019 a fevereiro de 2020 com 60 gestantes que estavam programadas para realizar a visita, tendo como critério de inclusão gestantes alfabetizadas e em pleno gozo de suas faculdades mentais, mediante autorização prévia das participantes, por meio do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) ou do termo de assentimento livre e esclarecido (TALE) para menores de dezoito anos, mediante autorização do responsável legal.
A coleta dos dados foi realizada a partir de um questionário criado pelos pesquisadores, contendo dados sociodemográficos e obstétricos e perguntadas norteadoras sobre o conhecimento das gestantes em relação ao hospital e o entendimento sobre assuntos abordados na visita guiada. Esse instrumento foi aplicado ao final da visita guiada, após as gestantes conhecerem a maternidade, tendo finalizada a sessão de educação em saúde.
Os dados foram analisados de forma descritiva sendo utilizado a frequência absoluta e relativa, e a média para descrever as variáveis, por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 23.0, organizados em tabelas e gráficos. A normalidade da distribuição dos dados foi avaliada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov (KS), sendo a distribuição normal.
O estudo faz parte de uma pesquisa maior intitulada “Visita Guiada às gestantes: contribuições para a mulher ao longo do ciclo gravídico-puerperal”, devidamente submetido à apreciação do comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual do Ceará e aprovado sob parecer 2.157.192.
RESULTADOS
Os resultados da análise serão apresentados em três categorias a saber: perfil sociodemográfico das gestantes; perfil obstétrico das gestantes; conhecimento das gestantes em relação ao hospital e o entendimento sobre assuntos abordados na visita guiada.
Perfil sociodemográfico das gestantes
Conforme a tabela 1, a faixa etária predominante das gestantes foi entre 20-35 anos (81,7%), 26 (43,3%) gestantes terminaram o ensino médio e eram casadas (26; 43,3%). Dessas gestantes, 29 moravam com até 5 pessoas (48,3%). O perfil econômico das mulheres é baixo com 46,7% vivendo com renda familiar de até um salário mínimo. No que diz respeito ao trabalho, 46 gestantes (76,7%) não trabalhavam fora de casa.
Tabela 1 - Perfil sociodemográfico das gestantes participantes da visita guiada. Maracanaú- CE, 2020 (N=60).
VARIÁVEIS |
N |
% |
Faixa etária (em anos) |
|
|
< 15 |
1 |
1,7 |
15-19 |
6 |
10,0 |
20-35 |
49 |
81,7 |
> 35 |
4 |
6,7 |
Escolaridade |
|
|
Ensino fundamental incompleto |
3 |
5,0 |
Ensino fundamental completo |
8 |
13,7 |
Ensino médio incompleto |
15 |
25,0 |
Ensino médio completo |
26 |
43,3 |
Ensino superior incompleto |
4 |
6,7 |
Ensino superior completo |
3 |
5,0 |
Não respondeu |
1 |
1,7 |
Estado civil |
|
|
Casada |
26 |
43,3 |
Solteira |
10 |
16,7 |
União estável |
24 |
40,0 |
Com quantas pessoas reside |
|
|
0-2 |
27 |
45,0 |
3-5 |
29 |
48,3 |
6 ou mais |
3 |
5,0 |
Não respondeu |
1 |
1,7 |
Renda familiar (em salários mínimos*) |
|
|
<1 |
12 |
20,0 |
1 |
28 |
46,7 |
≥ 2 |
18 |
30,0 |
Não respondeu |
2 |
3,3 |
Trabalha fora de casa |
|
|
Sim |
14 |
23,3 |
Não |
46 |
76,7 |
Ocupação |
|
|
Autônoma |
2 |
3,3 |
Recepcionista |
2 |
3,3 |
Vendedora |
2 |
3,3 |
Outros |
9 |
15,0 |
Nenhuma |
45 |
75,0 |
*O salário mínimo no período de estudo no Brasil foi de R$ 1.045,00.
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2021.
Perfil obstétrico das gestantes
Observando os dados obstétricos contidos na tabela 2, 34 mulheres estavam na primeira gestação (56,7%), e por isso não tinham filhos vivos. Quanto ao tipo de parto, 15 mulheres (57,6%), que tiveram parto normal, nove mulheres (34,6%) que tiveram parto cesáreo e duas mulheres (7,8%) tiveram ambos os partos. Na questão de número de abortos, 54 mulheres (90%) nunca abortaram. Quanto ao número de filhos vivos, dezessete mulheres (28,3%) possuíam apenas um filho vivo. Quanto à gravidez ser planejada, 33 mulheres (55%) relataram não ser ter planejado, enquanto 27 mulheres (45%) haviam planejado.
No que diz respeito ao acompanhamento pré-natal, 25 gestantes (41,7%) faziam acompanhamento pré-natal em um outro serviço além da UBS e 34 gestantes (56,7%) faziam somente na UBS.
Tabela 2 - Perfil obstétrico das gestantes participantes da visita guiada. Maracanaú-CE, 2020 (N=60).
VARIÁVIES |
N |
% |
Gestações |
|
|
1 |
34 |
56,7 |
2 |
16 |
26,7 |
3 |
7 |
11,7 |
4 |
2 |
3,33 |
Não respondeu |
1 |
1,7 |
Tipo de parto |
|
|
Primípara |
34 |
56,7 |
Multípara |
|
|
Normal |
15 |
57,6 |
Cesário |
9 |
34,6 |
Ambos |
2 |
7,8 |
Abortos |
|
|
0 |
54 |
90,0 |
1 |
5 |
8,3 |
Não respondeu |
1 |
1,7 |
Filhos vivos |
|
|
0 |
34 |
56,7 |
1 |
17 |
28,3 |
2 |
8 |
13,3 |
Não respondeu |
1 |
1,7 |
Gravidez planejada |
|
|
Sim |
27 |
45,0 |
Não |
33 |
55,0 |
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2021.
Importância da realização da visita guiada à maternidade pelas gestantes
No que se refere ao conhecimento prévio do hospital, grande parte das gestantes (29) (48,3%) relataram conhecer, no entanto, 30 gestantes (50%) não o conheciam. Quanto a partos vivenciados no referido hospital, 10 gestantes (16,7%) referiram já ter tido essa experiência e 49 gestantes (81,7%) não tiveram.
Quanto à visita guiada, 37 gestantes (61,7%) relataram que alguém comentou sobre a visita guiada com elas, podendo ser profissionais da equipe de saúde ou mesmo amigas que já participaram. Das gestantes que participaram da visita, 59 (98,3%) responderam que indicariam para outras pessoas.
Em relação ao esclarecimento das dúvidas durante a visita, as 60 gestantes (100%) disseram que foram sanadas. Quando analisadas separadamente por temáticas, 59 gestantes (98.3%) tiveram suas dúvidas elucidadas sobre a amamentação, 60 gestantes (100%) sobre o trabalho de parto (TP) e parto, 57 gestantes (95%) sobre os cuidados com o recém-nascido (RN), 58 gestantes (96,7%) sobre o período puerperal. (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Representação gráfica de dúvidas esclarecidas por temáticas (N=60)
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.
DISCUSSÃO
A gestação é uma fase de muitas mudanças para as mulheres, e a maneira como é conduzida a assistência à mulher nesse período favorece a melhores desfechos. Nesse sentido, os dados encontrados se relacionam com a qualidade da assistência prestada à saúde, tendo em vista que o grupo com gestantes é uma complementariedade da assistência pré-natal e é um espaço que busca promover a saúde da gestante de forma integral, não se retendo somente a escutar e acolher essa mulher, mas também potencializar o conhecimento sobre os assuntos que talvez não foram bem compreendidos durantes as consultas.
O perfil de gestantes encontrado evidenciou que grande parte das mulheres que participaram da visita guiada estavam entre 20 e 35 anos e eram casadas. Achados semelhantes foi encontrado em estudo realizado em Picos, Brasil, em que 69,3% das parturientes de um hospital público encontravam-se na faixa etária de 20-35 anos, 34,4% eram casadas e 39,9% viviam em uniãoestável(7). Corroborando com a faixa etária das gestantes, um estudo realizado no sudestetambém encontrou um maior percentual de gestantes (70,69%) com idades entre 20 a 34 anos, considerada como a melhor faixa etária para a gestação(8).
Quanto à escolaridade das gestantes, a maioria apresentou o ensino médio completo. Esse dado pode ser compreendido como positivo, visto que a baixa escolaridade é considerada um fator de risco obstétrico. Achado semelhante foi encontrado em estudo realizado no Paraná, onde a maioria das gestantes tinham de 5 a 9 anos de estudo (47,1%), seguida de 10 a 13 anos de estudo (31,2%)(9).
O nível de escolaridade materna é um importante fator para caracterizar o perfil obstétrico e sociodemográfico das gestantes visto que tem forte influência sobre a escolha do tipo de parto e na quantidade de vezes que a gestante comparece as consultas de pré-natal. A baixa escolaridade torna-se um fator de risco obstétrico pois dificulta a compreensão das atividades de educação em saúde, ocasionando prejuízos à saúde do binômio(10).
Em relação a renda, a maioria das gestantes afirmaram viver com 1 salário mínimo, residir com 3 a 5 pessoas e não trabalharem fora de casa. Um estudo que traçou o perfil de gestantes encontrou em seus achados que a maioria das gestantes viviam com 2 salários mínimos (42%), residiam com 4 ou mais pessoas (41,1%) e estavam desempregadas e trabalhavam no lar (54,5%)(9).
Durante a gestação, o pré-natal é uma oportunidade para os profissionais identificarem o perfil socioeconômico e gineco-obstétrico das gestantes, para conhecer os riscos aos quais a mulher está exposta durante a gestação e desenvolver as atividades de acompanhamento e promoção de uma gestação saudável(11). Um estudo de revisão acerca da percepção das mulheres sobre assistência humanizada de enfermagem no ciclo gravídico-puerperal, aponta como fator positivo no pré-natal a criação de vínculo entre o profissional e a paciente e as ações educativas em saúde (12).
Considerar o perfil socioeconômico, a história reprodutiva, comportamento sexual e contraceptivo, pode contribuir diretamente para o planejamento das ações, principalmente de enfermagem, pois, a partir da identificação das fragilidades existentes em cada grupo etário, é possível fortalecer as políticas públicas de saúde da família(13).
Em relação dos dados obstétricos, em pesquisa realizada no Brasil aponta um maior quantitativo de partos no Sistema Suplementar de Saúde (59,2%) em comparação com o SUS (36,3%). Sobre os tipos de partos, o destaque foi para partos do tipo vaginal (53,8%) seguido das cesarianas (46,2%), convergindo com esse estudo no sentido de que o número de partos normais foi superior ao de cirurgias cesarianas(14).
Destaca-se que a maioria das gestantes estavam na primeira gestação e por isso não tinham filhos vivos, a maioria também relatou nunca terem tido aborto. Um estudo que traçou o perfil de usuárias no programa casa das gestantes encontrou que a maioria eram multigestas (60,7%), o que difere do achado deste estudo. Por outro lado, corrobora com o relato dos abortos, onde a maioria referiu nunca terem abortado (79,1%)(15).
No que diz respeito a participação da gestante na visita guiada, a maioria respondeu que indicaria a visita guiada para outras pessoas, evidenciando que foi uma experiência positiva para elas. Diante deste achado, nota-se como é importante essa vivência para a gestante, pois, a partir disso, elas têm a oportunidade de se familiarizar com o ambiente, sentindo-se segura para a realização do parto naquela instituição.
A visita de vinculação à maternidade de referência proporciona às mulheres maior tranquilidade e segurança na preparação para o seu parto, sendo perceptível que a visita tem aspectos positivos para elas e está em concordância com a humanização preconizada pela Rede Cegonha(16).
Em relação ao esclarecimento das dúvidas durante o itinerário da visita e grupo com gestantes, a totalidade da amostra relatou ter esclarecido, sendo possível compreender que houve o entendimento acerca dos temas abordados durante a visita guiada. É interessante atentar que há um quantitativo considerável de primigestas, ou seja, gestantes que não tinham vivência/familiaridade com os temas mencionados.
O grupo com gestantes permite a troca de conhecimento e experiências entre as mulheres por meio de conversas e discussões com profissionais, favorecendo espaço para que dúvidas que não foram sanadas durante a consulta pré-natal possam ser esclarecidas durante o grupo(17).
A maioria das gestantes apresentaram dúvidas sobre amamentação, as quais foram elucidadas. Intervenções educativas com gestantes sobre o aleitamento materno e seus benefícios favorecem a adoção de práticas adequadas, o que reflete na adesão e manutenção da amamentação, e por consequência, na redução da mortalidade infantil(18).
Manter a gestante informada da importância do aleitamento materno é fundamental, visto que essa prática beneficia não somente o bebê, mas a ela também, pois a puérpera também desfruta de benefícios advindos da amamentação, sendo os principais associados ao auxílio do processo da involução uterina, com diminuição da perda sanguínea e redução da probabilidade de desenvolver câncer de mama e ovários(19).
Em estudo realizado em um hospital universitário na sala de espera de consulta pré-natal, 68% das gestantes não conseguiram identificar os sinais que antecedem o trabalho de parto e 63% não sabiam reconhecer os sinais de ruptura da bolsa(20). Portanto, tornam-se notórios os aspectos positivos de tratar de tal assunto também na visita guiada, onde a totalidade das gestantes relataram ter sanado suas dúvidas.
Outra dúvida bastante esclarecida estava relacionada aos cuidados demandados ao RN. Pesquisas apontam que sentimento de insegurança e medo surgem entre as mães primíparas devido à falta de experiência nos cuidados necessários ao RN. Destarte, cabe aos profissionais atentar para as dificuldades enfrentadas pelas clientes, dando apoio e orientação(21).
Em relação ao período puerperal, torna-se evidente que é uma temática que precisa ser discutida com as gestantes. Em um estudo realizado com puérperas de uma UBS, no Rio Grande do Sul, com objetivo de conhecer sobre as informações dadas a mulher sobre o período puerperal, constatou-se que as mulheres tinham dúvidas sobre as mudanças que ocorriam neste período, pois os profissionais deixavam lacunas quanto as mudanças fisiológicas do puerpério imediato, bem como outras orientações necessárias para promoção do autocuidado e prevenção de complicações nesta fase(22).
É evidente que existem questionamentos que precisam ser esclarecidos para melhor qualidade de vida da puérpera e do RN, principalmente relacionadas ao cuidado dela e do bebê. Nesse sentido, torna-se importante trabalhar esses aspectos com as gestantes, para que elas se sintam seguras e autônomas frente as demandas desempenhadas pela maternidade(23).
CONCLUSÕES
A visita guiada à maternidade contribuiu de forma eficaz para o entendimento das mulheres acerca dos temas relevantes para o ciclo gravídico-puerperal. Os dados mostraram que a maioria das gestantes conseguiu compreender a explanação dada durante todo o itinerário da visita e da participação no grupo de gestantes.
O estudo permitiu perceber que a visita guiada é um importante recurso para esclarecer dúvidas das gestantes sobre o período gravídico puerperal propiciando uma aproximação entre profissionais e gestantes e que esta aproximação gera segurança, promovendo o empoderamento das gestantes.
Aponta-se como limitação do estudo a realização da coleta de dados em um determinado período de tempo, impossibilitando de acompanhar se as gestantes colocaram em prática o conhecimento adquirido através dos esclarecimentos das dúvidas durante a visita de vinculação.
Por fim, é importante ressaltar que o desenvolvimento de novas pesquisas dentro desta temática é de grande relevância para os enfermeiros. Sugere-se pesquisas que visem acompanhar todo o ciclo gravídico puerperal e os resultados obtidos a partir da criação de vínculos com as gestantes por meio da visita guiada à maternidade e das atividades de educação em saúde, com propósito de oferecer aos profissionais de enfermagem melhores subsídios para a prestação de uma assistência de qualidade e humanizada.
REFERÊNCIAS
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2. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria Nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha. Brasília: Ministério da Saúde; 2011. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt1459_24_06_2011.html
3. Pacífico VS. Da gestação ao nascimento: principais dúvidas das mulheres acerca do ciclo gravídico-puerperal [Monografia]. Fortaleza: Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará; 2018. 42p.
4. Nascimento JS, Silva MR, Oliveira ECT, Monte GCSB. Assistência à Mulher no Pré-Natal, Parto e Nascimento: Rede Cegonha. Revist. Port.: Saúde e Sociedade. 2018;3(1): 694-709. Disponível em: https://doi.org/10.28998/rpss.v3i1.4241
5. Batista Filho M, Rissin A. A OMS e a epidemia de cesarianas. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant.. 2018; 18 (1): 5-6. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1806-93042018000100001
6. Silva MA. Sistema de referência para o parto hospitalar do Programa Cegonha Carioca: perspectiva das puérperas sobre a assistência da enfermeira [Dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2018. 104 p. Disponível em: https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/11455/1/ARQUIVO%20FINAL_MARCIA%20ARAUJO%20DA%20SILVA.pdf
7. Barbosa EM, Oliveira ASS, Galiza DDF, Barros VL, Aguiar VF, Marques MB. Perfil sociodemográfico e obstétrico de parturientes de um hospital público. Reve Rene. 2017,18(2): 227-33. Disponível em: http://periodicos.ufc.br/rene/article/view/19254/29971
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Submissão: 2021-08-25
Aprovado: 2022-02-08