CORDEL SOBRE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: ORIENTAÇÕES PARA A GESTANTE E SUA REDE DE APOIO
CORDEL ABOUT OBSTETRIC VIOLENCE: GUIDELINES FOR PREGNANT WOMEN AND HER SUPPORT NETWORK
CORDEL SOBRE VIOLENCIA OBSTÉTRICA: LINEAMIENTOS PARA EMBARAZADAS Y SU RED DE APOYO
https://doi.org/10.31011/reaid-2023-v.97-n.4-art.1973
1Haléxia de Fátima Ferreira de Sousa
2Ingrid de Sousa da Silva
3Francisco Ariclene Oliveira
4Luis Adriano Freitas Oliveira
5Rodrigo Castro Sampaio5
6Francisco Raimundo Silva Junior
7Ana Carolina de Oliveira e Silva
8Uly Reis Ferreira
1Centro Universitário UNIFAMETRO, Fortaleza, Brasil. (0009-0006-0465-2622) - ORCID
2Centro Universitário UNIFAMETRO, Fortaleza, Brasil. (0009-0001-9178-7982) - ORCID
3Centro Universitário UNIFAMETRO, Fortaleza, Brasil. (0000-0002-0290-4797) - ORCID
4Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil. (0000-0002-8248-1404) - ORCID
5Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil. (0000-0001-5136-3096) - ORCID
6Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil. (0009-0004-1593-6466) - ORCID
7Centro Universitário UNIFAMETRO, Fortaleza, Brasil. (0000-0002-6274-2873) - ORCID
8Centro Universitário UNIFAMETRO, Fortaleza, Brasil. (0000-0001-6760-1212) - ORCID
Autor correspondente
Rodrigo Castro Sampaio
Quadra 2, conjunto A Lote 8, apto 303. CEP: 71540-400, Varjão do Torto, Brasília-DF. Brasil. CEL: +55 (85) 99675-3612, E-mail: rodrigocastrosampaio@edu.unifor.br
Submissão: 19-08-2023
Aprovado: 14-12-2023
RESUMO
Ao longo dos anos, a assistência ao parto tem passado por mudanças, saindo do contexto natural e fisiológico para a submissão da parturiente aos profissionais, ameaçando sua autonomia e protagonismo das mulheres através de intervenções desnecessárias, a chamada violência obstétrica. Essa violência pode ocorrer de forma verbal, física e psicológica, caracterizada como apropriação do corpo feminino e dos processos reprodutivos pelos profissionais. Objetivou-se descrever a construção de uma tecnologia educativa no formato de um cordel sobre violência obstétrica com foco na orientação da gestante e sua rede de apoio. Trata-se de um estudo metodológico dividido em levantamento de dados, leitura de artigos e seleção de conteúdo para a construção da literatura de cordel. Após vasta pesquisa bibliográfica definiu-se os temas a serem abordados no cordel, desenvolvidos através de rimas, que são características dessa literatura. Posteriormente, foram selecionadas as imagens internas da literatura e da capa. O layout do cordel foi elaborado com o auxílio de vídeos pensando na acessibilidade como ponto chave do corpo do texto. Ademais, foi produzido pelas autoras um cordel de título “Violência obstétrica, vamos aprender?”, com oito páginas, capa e contracapa, contendo 24 estrofes com seis versos cada. O estudo desenvolvido possibilitou o conhecimento, a reflexão e o pensamento crítico sobre o tema.
Palavras-chave: Redes de Apoio Social; Rede Familiar; Violência Obstétrica; Tecnologia Educacional.
ABSTRACT
Over the years, childbirth assistance has undergone changes, moving away from the natural and physiological context towards the subjugation of birthing individuals to healthcare professionals, threatening their autonomy and women's agency through unnecessary interventions, known as obstetric violence. This violence can manifest verbally, physically, and psychologically, involving the appropriation of the female body and reproductive processes by healthcare providers. The objective of this study was to describe the development of an educational technology in the form of a "cordel" (traditional Brazilian poetic literature) focusing on educating pregnant women and their support network about obstetric violence. The study followed a methodological approach, including data collection, article review, and content selection for the creation of the cordel literature. Themes to be addressed in the cordel were defined through extensive bibliographic research and expressed in rhymes characteristic of this literary form. Internal images for the literature and cover were subsequently selected, and the cordel layout was designed with the incorporation of videos to prioritize accessibility. The authors produced a cordel titled "Obstetric Violence, Shall We Learn?" comprising eight pages, cover, and back cover, with 24 stanzas, each composed of six verses. The study facilitated knowledge, reflection, and critical thinking about the topic.
Keywords: Social Support Networks; Family Network; Obstetric Violence; Educational Technology.
RESUMEN
A lo largo de los años, la asistencia al parto ha pasado por cambios, saliendo del contexto natural y fisiológico para la sumisión de la parturiente a los profesionales, amenazando su autonomía y protagonismo de las mujeres a través de intervenciones innecesarias, la llamada violencia obstétrica. Esta violencia puede ocurrir de forma verbal, física y psicológica, caracterizada como apropiación del cuerpo femenino y de los procesos reproductivos por los profesionales. Se objetivó describir la construcción de una tecnología educativa en el formato de un cordel sobre violencia obstétrica con foco en la orientación de la gestante y su red de apoyo. Se trata de un estudio metodológico dividido en levantamiento de datos, lectura de artículos y selección de contenido para la construcción de la literatura de cordel. Después de vasta investigación bibliográfica se definieron los temas a ser abordados en el cordel, desarrollados a través de rimas, que son características de esa literatura. Posteriormente, fueron seleccionadas las imágenes internas de la literatura y de la portada. El diseño del cordel fue elaborado con la ayuda de videos pensando en la accesibilidad como punto clave del cuerpo del texto. Además, fue producido por las autoras un hilo de título "Violencia obstétrica, vamos a aprender?" con ocho páginas, portada y contraportada, que contiene 24 estrofas con seis versos cada una. El estudio desarrollado posibilitó el conocimiento, la reflexión y el pensamiento crítico sobre el tema.
Palabras clave: Apoyo Social; Familia; Violencia Obstétrica; Tecnología Educacional.
INTRODUÇÃO
O ato de parir, inicialmente era um fenômeno natural e fisiológico, composto exclusivamente pela figura feminina. Durante a Segunda Guerra Mundial a figura masculina passou a fazer parte desse evento, trazendo o aumento de intervenções e horizontalidade entre paciente e profissional(1).
No final da década de 1980 houve o surgimento de um movimento social que tinha como objetivo lutar pela humanização do parto e do nascimento, baseado nas propostas executadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de 1985, que encorajaram o parto vaginal, amamentação após o parto, o alojamento conjunto da mãe e do recém-nascido, além da presença de acompanhante durante o trabalho de parto(2).
Atualmente o contexto obstétrico caracteriza-se pela submissão da parturiente ao profissional, retirando o protagonismo feminino do processo de parir e esse fato pode ser considerado uma violência obstétrica. A Lei Orgânica sobre os Direitos das Mulheres a uma Vida Livre de Violência caracteriza a violência como a apropriação do corpo feminino e dos processos reprodutivos por profissionais de saúde revelados pelo trato desumano, uso abusivo da medicalização e intervenções desnecessárias sobre processos fisiológicos o que reflete negativamente na qualidade de vida das mulheres. Além disso, essa violência também ocorre de maneira psicológica, também podendo ser considerada uma violência de gênero(3). Desse modo, é possível inferir que a violência obstétrica “representa a desumanização do cuidar e a perpetuação do ciclo de opressão feminina pelo próprio sistema de saúde”(4).
Neste documento, a assistência profissional considerada violenta com a gestante, como intervenções medicamentosas sem necessidade e tratar o parto como um evento patológico, dentre outras atitudes que promovam a perda de autonomia da mulher, serão penalizadas(5).
É fundamental que essa gestante tenha uma rede de apoio (RA) para lhe ajudar durante esse processo tão importante. A rede de apoio é caracterizada como um sistema que é composto por indivíduos de diferentes campos sociais, que proporcionam suporte emocional, assim como também, psicológico. Essa rede de apoio, geralmente, é composta pelo companheiro, pela mãe, por outros parentes, por vizinhas, dentre outros. Ademais, tem grande participação no parto e, diferentemente do período de consultas do pré-natal, no qual a gestante frequenta, na maioria das vezes, sozinha e ao final da gestação é que passa a ser acompanhada, por questões de segurança(6).
De acordo com a pesquisa Mulheres brasileiras e gênero nos espaços públicos e privados, verificou que “uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto, desde gritos, procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação, falta de analgesia e até negligência”(7).
Após a participação dessas mulheres nesta exposição, foi analisado que 12,6% das 555 mulheres que participaram da pesquisa entenderam que sofreram VO e essas violências foram atribuídas ao estado civil, a escolaridade, a cor, a ausência de companheiro, dentre outras(7).
Através da introdução das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICS) em diversas áreas do ensino algumas modalidades de métodos ativos com perfil tecnológico foram inseridas no ensino da saúde. O emprego das tecnologias traz consigo possibilidades de comunicação, interação e imersão em um determinado conteúdo educativo por meio do uso dos jogos eletrônicos, cartilhas digitais ou impressas, música, literatura. A educação superior tem como objetivo envolver os alunos e para isso é necessário inovar e adotar técnicas e metodologias ativas(8).
Dentre as tecnologias educativas existentes, os autores optaram por construir uma tecnologia fomentada a partir da literatura de cordel sobre a importância da rede de apoio no auxílio da diminuição da violência obstétrica. Ademais, o cordel pode ser caracterizado como folhetos contendo poemas populares e é construído por meio de rimas e xilogravuras(9).
Espera-se que por meio da construção dessa tecnologia educativa que utiliza o poema popular, a rede de apoio e a gestante possam compreender o conceito de violência obstétrica, como identificá-la e como evitá-la. Além disso, esse cordel também irá auxiliar os profissionais de saúde a desnaturalizar essas práticas desnecessárias e utilizar essa literatura como ferramenta de educação em saúde em sua assistência.
Este estudo teve como objetivo descrever a construção de tecnologia educativa no formato de um cordel sobre violência obstétrica com foco na orientação da gestante e sua rede de apoio.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo metodológico que visa a construção de um cordel sobre violência obstétrica com orientações para a gestante e sua rede de apoio. Os estudos metodológicos referem-se às fases de desenvolvimento, validação do estudo e das avaliações das ferramentas e métodos de pesquisa(10).
Esse tipo de pesquisa envolve três etapas: I) Desenvolvimento da tecnologia; II) Validação da tecnologia; e III) Avaliação e aplicação da tecnologia. Entretanto, nesse estudo metodológico, as autoras realizaram a etapa que trata sobre o desenvolvimento da tecnologia(11).
Conforme destacado os estudos metodológicos têm como primeira etapa o “Desenvolvimento da Tecnologia”, assim, pressupõe-se que essa fase seja iniciada e fundamenta a partir de um levantamento bibliográfico que permita lançar luz em lacunas ainda não preenchidas e/ou abordadas na literatura sobre o tema(11). Nesse sentido, a construção do cordel iniciou, primeiramente, com o levantamento bibliográfico nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e a National Library of Medicine (NLM), realizado de forma independente pelas autoras.
Dentro das bases de dados, filtrou-se 19 artigos, na língua portuguesa e inglesa, que foram publicados nos anos de 2017 a 2021, utilizando os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Redes de apoio social; Rede familiar; Violência obstétrica e Tecnologia educacional. Os artigos serviram de base para a revisão de literatura realizada pelas autoras e para o conteúdo teórico utilizado na criação das rimas e estrofes da literatura de cordel.
O cordel foi desenvolvido após ampla pesquisa do material teórico reunido na busca bibliográfica. Posteriormente, as autoras definiram os tópicos que foram abordados no texto da literatura de cordel, logo após, foram construídas as rimas que são o que caracteriza esse tipo de obra literária. Ademais, foi realizada a formatação da estrutura do cordel e escolhidas as ilustrações que estão nele, incluindo a capa, a partir do referencial bibliográfico e dos principais assuntos que foram abordados.
As ilustrações devem ser adequadas ao tema, de modo a facilitar a compreensão e recordação do texto, clarificando e reforçando as informações, sendo assim, foram utilizadas imagens que possibilitaram dinamizar o conteúdo e facilitar a educação em saúde ao esclarecer todo o conteúdo encontrado na revisão de literatura(12).
Primeiramente, as autoras do projeto elaboraram com o auxílio de vídeos compartilhados na plataforma do Youtube®, através do canal Prof. Fagner Araújo (2022), o layout do cordel e o seu texto em rima, assim como também, a diagramação com diâmetro padrão para todas as páginas de 11 x 15 cm, com o propósito de torná-la acessível e de fácil manuseio(13).
Quanto ao estilo e tamanho da fonte da escrita, predominou-se o uso de fontes limpas, de fácil compreensão, sob as finalidades de não tornar a leitura cansativa e de alcançar uma maior faixa etária de leitores, tendo em vista que muitos deles possam ter algum problema de visão que dificulte a leitura de textos com fontes de tamanho reduzido.
O cordel foi construído com o propósito de alcançar o público de gestantes e sua rede de apoio. Além disso, os profissionais de saúde que poderão utilizar a tecnologia educativa em sua assistência.
Os dados foram analisados a partir da literatura pertinente à temática e levantada na primeira fase de construção do Cordel.
Foram resguardados os direitos autorais das obras, programas e imagens utilizados ao longo do trabalho por meio da apresentação das referências no texto e lista final de referências. Além disso, por se tratar de um estudo metodológico que contém a etapa de desenvolvimento da tecnologia, não conta com a participação de seres humanos e não passou pela etapa de validação, não sendo necessário o envio para o comitê de ética em pesquisa.
RESULTADOS
Após levantamento bibliográfico foi produzido pelas autoras um cordel com oito páginas, capa e contracapa, contendo 24 estrofes com seis versos cada. O tamanho da letra do texto foi 11 e a fonte “Calibri”, no título da capa o tamanho da letra foi de 25,3 com o intuito de destacá-lo e chamar atenção do leitor.
A etapa de ilustrações e design foi realizada pelas autoras por meio de uma plataforma de design gráfico, denominado Canva®, em que foi selecionado o tom de cor rosa claro para o fundo da literatura de cordel, pois a cor escolhida tornou a visualização da obra harmônica e suave, de acordo com a psicologia das cores.
Foi utilizada de uma a três imagens para cada lauda, cada qual com três estrofes, que remeteram ao assunto abordado nelas. Além disso, as imagens foram selecionadas no intuito de facilitar a compreensão dos leitores sobre o conteúdo. As ilustrações foram retiradas da própria plataforma e algumas por meio de um site da Internet.
A versão final do cordel contém 24 estrofes, na qual foi utilizado o método de sextilhas, ou seja, com seis versos em cada estrofe, em cada linha as autoras buscaram utilizar o método de sete sílabas semânticas.
Figura 1 – Capa e contra capa do cordel. Fortaleza, Brasil.
Fonte: Autores, 2023.
A capa do cordel contém uma imagem em xilogravura que foi retirada da Internet, que representa uma gestante rodeada de estrelas, a tecnologia tem como título “Violência Obstétrica, vamos aprender!”, a contracapa tem ainda o nome das autoras da literatura e um breve resumo sobre o que o público encontrará no cordel.
A primeira página do cordel introduz o leitor sobre o assunto que será abordado na literatura que é a Violência Obstétrica (VO) e que ela pode ser física, verbal e emocional. Na segunda lauda, visualizam-se duas imagens que representam dois tipos, que são conhecidas por manobra de Kristeller e a episiotomia, nas estrofes as autoras explicam de maneira objetiva como elas acontecem. Segue abaixo as imagens da parte interna do cordel:
Figura 2 – Parte interna do cordel, páginas 1 e 2. Fortaleza, Brasil.
Fonte: Autores, 2023.
Logo em seguida, na terceira página, aborda-se sobre a Rede Cegonha, sobre a questão da peregrinação da gestante, além disso, cita também um tipo de agressão verbal que as gestantes sofrem. A quarta página traz informações sobre a Lei Federal nº 11.108, de 7 de abril de 2005, que fala sobre o direito ao acompanhante durante todo o trabalho de parto, parto e pós-parto(15).
Figura 3 – Parte interna do cordel, páginas 3 e 4. Fortaleza, Brasil.
Fonte: Autores, 2023.
Na página seguinte, página 5, visualiza-se uma imagem que remete ao momento em que a bolsa amniótica rompe, etapa fisiológica do trabalho de parto, mas que em alguns casos é rompida pelo profissional, caracterizando-se como um tipo de violência obstétrica.
Figura 4 – Parte interna do cordel, páginas 5 e 6. Fortaleza, Brasil.
Fonte: Autores, 2023.
A sexta página possui uma imagem de uma mulher segurando seu bebê, foi selecionada pelas autoras para simbolizar o momento conhecido por “golden hour” ou hora de ouro, essencial para o binômio e que em algumas ocasiões não é garantido pelos profissionais.
Figura 5 – Parte interna do cordel, páginas 3 e 4. Fortaleza, Brasil.
Fonte: Autores, 2023.
Por fim, nas duas últimas páginas (7 e 8), retratou-se o que é a rede de apoio e qual a sua função durante o momento do trabalho de parto e vulnerabilidade que a gestante se encontra.
DISCUSSÃO
A temática deste trabalho abordou sobre a construção de um cordel sobre violência obstétrica com orientações para gestante e sua rede de apoio. É válido lembrar que a violência obstétrica é caracterizada como a apropriação do corpo feminino e dos processos reprodutivos, é realizada por profissionais da saúde e, além disso, pode ser classificada como violência de gênero, verbal, física e psicológica(3).
Dentro da literatura de cordel produzida pelas autoras citam-se diversos tipos de violência obstétrica, dentre elas a manobra de Kristeller, que já foi proibida pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde, que consiste em uma pressão na parte superior do útero, que tem o intuito de facilitar e acelerar a saída do recém-nascido, essa técnica causa lesões graves, dentre elas, deslocamento de placenta, traumas encefálicos e fratura de costelas(16).
Ademais, a episiotomia também foi relatada no texto, ela é caracterizada por um corte na região perineal, na qual é realizado durante o desprendimento da cabeça do feto para que seja evitado lacerações vaginais extensas e envolve a incisão de músculos do corpo perineal, mucosa e pele. Entretanto, esse procedimento pode acarretar lesões profundas e com maior grau de gravidade quando comparada às lacerações espontânea(17).
No corpo do texto também foi abordado sobre a Rede Cegonha, que tem como objetivo garantir a melhoria do acesso e da qualidade na assistência à mulher e à criança até os 2 anos, através da vinculação da gestante à unidade de referência e o transporte seguro. Além da implementação de boas práticas na atenção ao parto, puerpério e nascimento. Além disso, a rede cegonha inclui o direito do acompanhante de livre escolha da gestante em seu parto(18).
Além disso, as autoras citam também a Lei nº 11.108, também conhecida como Lei do Acompanhante, que ordena que os serviços de saúde maternos permitam a presença de um acompanhante de escolha da mulher durante todo seu período de trabalho de parto, parto e puerpério. Com o intuito de regulamentar a presença do acompanhante tanto em âmbito público, como em privado, foram publicados outros documentos, para que esse direito fosse garantido a todas as parturientes e, respeitado pelas instituições prestadoras de saúde(19).
Outro ponto exposto no cordel é sobre o rompimento da bolsa amniótica, que acontece de maneira fisiológica ou induzida, nesse último caso é definido por amniotomia, que é realizada pelo profissional, por meio de um instrumento esterilizado que é inserido na cérvice uterina no momento do toque vaginal, sendo realizado no início, durante ou final do trabalho de parto(20).
Foi retratado ainda pelas autoras o momento conhecido por “golden hour” ou hora de ouro e os princípios que a norteiam, se fundem aos princípios da Rede Cegonha que garantem as boas práticas nos cuidados ao RN saudável. Dentre elas estão o contato pele a pele do RN com a mãe imediatamente após o nascimento, o clampeamento do cordão umbilical no momento adequado e o estímulo ao aleitamento materno. Tais práticas devem ser estimuladas pelos profissionais de enfermagem a fim de garantir humanização no atendimento e a redução de procedimentos de rotina ao RN de baixo risco(21).
Concluindo, as últimas estrofes do cordel versam sobre o significado de rede de apoio e sua função durante o trabalho de parto, parto e pós-parto, esta pode ser composta por membros da família, profissionais de saúde e/ou amigos. Ela deve servir de suporte emocional que a gestante irá passar por causa das mudanças no seu corpo e na sua mente(21).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo desenvolvido pelas autoras possibilitou maior conhecimento sobre a temática, além de proporcionar a relevância da utilização de tecnologias educativas para o processo de ensino-aprendizagem e educação em saúde. Ademais, o objetivo proposto era a construção de um cordel sobre violência obstétrica com foco na orientação para a gestante e sua rede de apoio foi alcançada.
Após levantamento bibliográfico, foi construído um cordel que abordou sobre os tipos de violência obstétrica, a exemplo da manobra de Kristeller, episiotomia, ruptura artificial das membranas amnióticas, agressões verbais e psicológicas, além de tópicos como a Rede Cegonha e a Lei do acompanhante, assim como também sobre a rede de apoio e o seu papel durante o trabalho de parto, parto e pós-parto.
Buscou-se construir uma literatura de cordel com linguagem acessível para o público-alvo e para que os profissionais utilizem em sua assistência. O estudo contou com a etapa de construção da tecnologia, não sendo realizada a validação pelo Comitê de Ética em Pesquisa, entretanto, há interesse das autoras de uma nova possibilidade de pesquisa para validar em uma proposta futura.
Dentre as limitações encontradas pelas autoras, destacam-se o não envio do material para um design gráfico, o que fez com que as imagens do cordel fossem diferentes uma da outra e não padronizadas, especialmente por não serem xilogravuras, que são características da obra literária construída.
Portanto, recomenda-se que sejam realizados mais estudos que aprofundem esse tema, por meio da utilização de tecnologias educativas, como o cordel, que foge do cotidiano acadêmico e apresenta o assunto de maneira lúdica que facilita a compreensão dos leitores.
REFERÊNCIAS
1. Bitencourt ADC, Oliveira SL, Rennó GM. Significado de violência obstétrica para os profissionais que atuam na assistência ao parto. Enferm Foco [Internet]. 2021 [citado 2023 Jul 04]; 12(4):787–93. doi: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2021.v12.n4.4614.
2. Zanardo GLP, Uribe MC, Nadal AHRD, Habigzang LF. Violência obstétrica no Brasil: uma revisão narrativa. Psicol Soc [Internet]. 2017 [citado 2023 Jun 10];29(0):e155043–e155043. doi: https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29155043.
3. Menezes FR, Reis GM, Sales AAS, Jardim DMB, Lopes TC. O olhar de residentes em Enfermagem Obstétrica para o contexto da violência obstétrica nas instituições. Interface [Internet]. 2020 [citado 2023 Jul 04]; 24:e180664. doi: https://doi.org/10.1590/Interface.180664.
4. Lima KD, Pimentel C, Lyra TM. Disparidades raciais: uma análise da violência obstétrica em mulheres negras. Cien Saude Colet [Internet]. 2021 [citado 2023 Ago 04]; 26(suppl 3):4909–18. doi: https://doi.org/10.1590/1413-812320212611.3.24242019.
5. Matos MG, Magalhães AS, Féres-Carneiro T. Violência Obstétrica e Trauma no Parto: O Relato das Mães. Psicol Ciênc Prof [Internet]. 2021 [citado 2023 Jul 12];41:e219616. doi: https://doi.org/10.1590/1982-3703003219616.
6. Tsunechiro MA, Bonadio IC. A família na rede de apoio da gestante. Fam. Saúde Desenv [Internet].1999 [citado 2023 Jun 21]; 1(2):103-106. doi: http://dx.doi.org/10.5380/fsd.v1i1.4853.
7. Lansky S, Souza KV, Peixoto ERM, Oliveira BJ, Diniz CSG, Vieira NF, et al. Violência obstétrica: influência da Exposição Sentidos do Nascer na vivência das gestantes. Cien Saude Colet [Internet]. 2019 [citado 2023 Ago 22]; 24(8):2811–24. doi: https://doi.org/10.1590/1413-81232018248.30102017.
8. Batista ITP, Maia ICVL, Rocha AS, Morais, RS. Metodologias focadas na gamificação para o ensino superior na área da enfermagem: uma revisão integrativa. REASE [Internet], 2023 [citado 2023 Jun 10]; 9(4):966–83. doi: https://doi.org/10.51891/rease.v9i4.9282.
9. Alves I. Cordel: o que é e qual o significado [Internet]. 2021 [citado 2023 Jan 20]. Disponível em: https://www.significados.com.br/cordel/.
10. Melo WS, Oliveira PJF, Monteiro FPM, Santos FCDA, Silva MJN, Calderon CJ, et al. Guide of attributes of the nurse’s political competence: a methodological study. Rev Bras Enferm [Internet]. 2017 [citado 2023 Set 12]; 70(3):526–34. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0483.
11. Polit DF; Beck, CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. 9. ed. Porto Alegre: Artmed; 2019.
12. Teles LMR, Oliveira AS, Campos FC, Lima TM, Costa CC, Gomes LFS, et al. Development and validating an educational booklet for childbirth companions. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [citado 2023 Jul 05]; 48(6):977–84. doi: https://doi.org/10.1590/S0080-623420140000700003
13. Araújo F. Como escrever um cordel [Internet]. Prof. Fagner Araujo; 13 jul 2022 [citado 2023 Jun 02]. Vídeo: 11 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jJxQD1wSI54.
14. Deatrick D, Aalberg J, Cawley, J. A guide to creating and evaluating patient materials. guidelines for effective print communication [Internet]. Portland: MaineHealth; 2010 [citado 2023 maio 22]. Disponível em: https://mainehealth.org/-/media/community-education-program-cep/ health-literacy/mh-print-guidelines.pdf?la=en.
15. Brasil. Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005. Altera a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. Brasília: Diário Oficial da União; 2005.
16. Manobra de Kristeller: entenda por que o método é considerado uma forma de violência obstétrica. Rev Crescer [Internet]. 2017 [citado 2022 Nov 20]. Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Gravidez/Parto/noticia/2017/01/manobra-de-kristeller-entenda-por-que-o-metodo-e-considerado-uma-forma-de-violencia-obstetrica.html.
.
17. Carvalho VF, Kerber, NPC, Busanello, J, Gonçalves, BG, Rodrigues, EF, Azambuja, EP. How the workers of a birthing center justify using harmful practices in natural childbirth. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2012 [citado 2023 Fev 05]; 46(1):30-37. doi: https://doi.org/10.1590/S0080-62342012000100004.
18. Oliveira EM, Celento DD. A temática da Rede Cegonha e a inserção do enfermeiro nesse contexto. Rev Saúde [Internet]. 2016 [citado 2023 Jun 23]; 7(1):33. doi: https://doi.org/10.21727/rs.v7i1.87.
19. Brüggemann OM, Ebsen ES, Oliveira ME, Gorayeb MK, Ebele RR. Motivos que levam os serviços de saúde a não permitirem acompanhante de parto: discursos de enfermeiros. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2014 [citado 2023 Ago 05]; 23(2):270-7. doi: https://doi.org/10.1590/0104-07072014002860013.
20. Marques IR, Barbosa SF, Basile ALO, Marin HF. Guia de Apoio à Decisão em Enfermagem Obstétrica: aplicação da técnica da Lógica Fuzzy. Rev. Bras Enferm [Internet]. 2005 [citado 2023 Jul 05]; 58(3):349–54. doi: https://doi.org/10.1590/S0034-71672005000300019.
21. Matos GC, Soares MC, Escobal APDL, Quadro PP, Rodrigues JB. Rede de apoio familiar à gravidez e ao parto na adolescência: uma abordagem moscoviciana. J Nurs Health [Internet]. 2019 [citado 2023 Ago 25]; 9(1). doi: http://dx.doi.org/10.15210/jonah.v9i1.12754.
Fomento e agradecimento
Ao Centro Universitário UNIFAMETRO.
Critérios de Autoria
Haléxia de Fátima Ferreira de Sousa: Concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados.
Ingrid de Sousa da Silva: Concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados.
Francisco Ariclene Oliveira: Concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados. Assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Luis Adriano Freitas OliveiraRedação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Rodrigo Castro SampaioRedação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Francisco Raimundo Silva Junior Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Ana Carolina de Oliveira e Silva Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Uly Reis Ferreira Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Declaração e conflito de interesses
Nada a declarar.
Editor científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519
Editor científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447