ARTIGO DE REVISÃO
LUDOTERAPIA INFANTIL NO CONTEXTO HOSPITALAR: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
CHILDREN'S PLAY THERAPY IN THE HOSPITAL CONTEXT: AN INTEGRATIVE REVIEW OF THE LITERATURE
TERAPIA DE JUEGO INFANTIL EN EL CONTEXTO HOSPITALARIO: UNA REVISIÓN INTEGRADORA DE LA LITERATURA
https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.1-art.2004
1Anna Cristina Barbosa Ribeiro de Carvalho
2Lívia Maria de Sousa Alencar
3Maria Vitória Magalhães Costa
4Pedro Venicius de Sousa Batista
5Juliana Macêdo Magalhães
6Saraí de Brito Cardoso
7Thais Portela Teixeira Campelo
8Ana Beatriz Mendes Rodrigues
1 Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3030-3649
2 Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-8784-9887
3 Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0007-8372-044X
4 Universidade Federal do Piauí (UFPI). Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9441-0996
5 Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9547-9752
6 Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8941-1038 7
7 Centro Universitário UNIFACID. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1780-3761
8 Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: http://orcid.org/0000-0001-8066-0022
Autor correspondente
Anna Cristina Barbosa Ribeiro de Carvalho
Avenida João de
Paiva, 95, Centro, 64290-000, +55 (86)9 9463-4088,
E-mail: annabarbosa108@gmail.com.
Submissão: 12-09-2023
Aprovado: 08-02-2024
RESUMO
Introdução: As atividades lúdicas estão presentes em locais de recreação, principalmente em brinquedotecas existentes no hospital, considerado essencial para a criança se distrair durante a internação. Objetivo: Analisar a importância da ludoterapia no contexto hospitalar, por meio da literatura científica, descrever as estratégias e técnicas da ludoterapia no contexto hospitalar e discutir as limitações encontradas na assistência do enfermeiro durante a realização da ludoterapia. Método: Revisão integrativa da literatura de abordagem qualitativa, norteadora através da seguinte pergunta “Qual a importância da ludoterapia infantil no contexto hospitalar?” As buscas foram realizadas nas bases de de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online via PUBMED, Cumulative Index of Nursing and Allied Health Literature, Web of Science, Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde e Base de Dados em Enfermagem, utilizando-se dos descritores Criança; Ludoterapia; Hospitais e Criança Hospitalizada com auxílio dos operadores booleano “AND” e “OR”. Resultados: Foram identificados 76 artigos, dos quais 16 foram selecionados para esta revisão. Os estudos foram agrupados em três categorias temáticas: Importância da ludoterapia no contexto hospitalar; Estratégia e técnica da ludoterapia no contexto hospitalar; e Limitações encontradas na assistência do enfermeiro durante a realização da ludoterapia. A ludoterapia busca desenvolver atividades englobando o contexto do trabalho em equipe, tornando humanizado o trabalho no contexto hospitalar. Considerações finais: Conclui-se que a ludoterapia tem benefícios positivos, sendo um método não farmacológico eficaz, reduz o medo, estresse e angústia, bem como o favorecimento da aprendizagem e da criatividade, facilitando uma melhor adesão ao tratamento.
Palavras-chave: Criança; Ludoterapia; Hospitais; Criança Hospitalizada.
ABSTRACT
Introduction: Playful
activities are present in places of recreation, especially in hospital
playrooms, which are considered essential for children to be distracted during
hospitalization. Objective: To analyze the importance of play therapy in
the hospital context, through the scientific literature, to describe the
strategies and techniques of play therapy in the hospital context and to
discuss the limitations found in the assistance of nurses during play therapy. Method:
Integrative literature review with a qualitative approach, guided by the
following question: "What is the importance of children's play therapy in
the hospital setting?" The searches were carried out in the following
databases: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online via PUBMED,
Cumulative Index of Nursing and Allied Health Literature, Web of Science, Latin
American and Caribbean Literature in Health Sciences and Nursing Database,
using the descriptors Child; Play Therapy; Hospitals and Hospitalized Child
with the aid of the Boolean operators "AND" and "OR". Results:
76 articles were identified, 16 of which were selected for this review. The
studies were grouped into three thematic categories: Importance of play therapy
in the hospital context; Strategy and technique of play therapy in the hospital
context; and Limitations found in nurse assistance during play therapy. Play
therapy seeks to develop activities encompassing the context of teamwork,
humanizing work in the hospital context. Final considerations: It is
concluded that play therapy has positive benefits, being an effective
non-pharmacological method, reducing fear, stress and anguish, as well as
favoring learning and creativity, facilitating better adherence to treatment.
Keywords: Child; Play Therapy; Hospitals; Child, Hospitalized.
RESUMEN
Introducción: Las actividades lúdicas están presentes en los entornos recreativos, especialmente en las ludotecas hospitalarias, que se consideran esenciales para distraer a los niños durante la hospitalización. Objetivo: Analizar la importancia de la terapia lúdica en el contexto hospitalario, a través de la literatura científica, describir las estrategias y técnicas de la terapia lúdica en el contexto hospitalario y discutir las limitaciones encontradas en la asistencia de enfermeros durante la terapia lúdica. Método: Revisión bibliográfica integradora con abordaje cualitativo, guiada por la siguiente pregunta: "¿Cuál es la importancia de la terapia de juego infantil en el contexto hospitalario?" Las búsquedas fueron realizadas en las siguientes bases de datos: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online vía PUBMED, Cumulative Index of Nursing and Allied Health Literature, Web of Science, Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences y Nursing Database, utilizando los descriptores Child; Play Therapy; Hospitals y Hospitalised Child con el auxilio de los operadores booleanos "AND" y "OR". Resultados: Se identificaron 76 artículos, 16 de los cuales fueron seleccionados para esta revisión. Los estudios se agruparon en tres categorías temáticas: Importancia de la terapia de juego en el contexto hospitalario; Estrategia y técnica de la terapia de juego en el contexto hospitalario; y Limitaciones encontradas en la asistencia de las enfermeras durante la terapia de juego. Consideraciones finales: Se concluye que la terapia de juego tiene beneficios positivos, siendo un método no farmacológico eficaz, reduciendo el miedo, el estrés y la angustia, además de favorecer el aprendizaje y la creatividad, facilitando una mejor adherencia al tratamiento.
Palabras clave: Niño; Terapia de Juego; Hospitales; Niño Hospitalizado.
INTRODUÇÃO
A internação hospitalar é um processo desafiador para o indivíduo, que quando prolongado, torna-se prejudicial. No entanto, quando o processo de hospitalização ocorre na primeira infância, os riscos podem ser ainda maiores, uma vez que as crianças não apresentam um grau de maturidade para seguir às regras estabelecidas, compreender procedimentos invasivos e realizar tarefas diferentes do seu dia a dia (1).
Nesse meio, a criança muda seu comportamento com tendência a ficar retraída e triste devido à escassez de comunicação, diversão, lazer, amigos, havendo contato apenas com os pais e os profissionais do hospital. Além disso, passa a ser exposta cada vez mais a procedimentos invasivos. Com isso a criança sai da sua área de conforto, tendo de adaptar-se a rotina do hospital, gerando mudanças de humor, comportamento e causando impacto biopsicossocial (2).
Desse modo, a ludoterapia surge como uma estratégia que auxilia na socialização da criança com toda a equipe e seus familiares, proporcionando bem-estar, entretenimento e funciona também como uma medida analgésica e não farmacológica. As estratégias lúdicas no contexto hospitalar pediátrico promovem experiências positivas no sentido de tornar o ambiente do hospital menos hostil e ameaçador para crianças (3). Neste viés, a ludoterapia caracteriza-se como um caminho étnico, prático e teórico no que diz respeito à criança e sociedade, com a finalidade de solucionar diversas lacunas e responder ao chamado da criança de forma natural (4).
As atividades lúdicas estão presentes em locais de recreação, principalmente em brinquedotecas existentes no hospital, considerado essencial para a criança se distrair durante a internação. Nesse sentido, o brincar permite compreender a realidade psíquica infantil, seu contexto familiar e como o paciente está lidando com seu diagnóstico, internação e tratamento, além de ressignificar experiências difíceis, possibilitando a elaboração de angústias do que foi vivenciado como traumático ou muito sofrido (5).
Ademais, permitir que a criança tenha uma atividade lúdica, tendo acesso a brinquedos, desenhos animados, quebra-cabeça e mais objetos que a criança tenha afinidade, é importante para que a criança consiga demonstrar seus medos, angústias e aflições, desviando o fator estressor durante o período de internação. Contando com essa experiência de ludoterapia, a criança tem mais chances de conseguir encarar a internação e o tratamento de forma positiva e sem tanta exaustão (6).
Sobretudo, a atividade lúdica se tornou um método indispensável e obrigatório, desde que foi imposta a Resolução do COFEN n° 546/2017, impondo a utilização de brinquedotecas e de brinquedos terapêuticos durante a assistência de enfermagem, sendo colocado em prática por toda equipe, devendo ser registrada no prontuário e assinada para respaldo legal (7).
Dessa forma, a Enfermagem além de apresentar um papel fundamental na prática das brincadeiras terapêuticas, facilita também a realização dos profissionais nos procedimentos que serão realizados no espaço intra-hospitalar, melhorando a recuperação da criança, estabelecendo vínculo e confiança com a equipe de enfermagem, possibilitando uma assistência mais humanizada no ambiente pediátrico (8).
Frente a este contexto, este estudo tem como objetivo analisar a importância da ludoterapia no contexto hospitalar, por meio da literatura científica. Além disso, descrever as estratégias e técnicas da ludoterapia no contexto hospitalar e discutir as limitações encontradas na assistência do enfermeiro durante a realização da ludoterapia.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa de abordagem qualitativa, a qual seguiu seis etapas para o seu desenvolvimento, as quais são: 1) elaboração da questão da pesquisa; 2) busca na literatura dos estudos primários; 3) extração dos dados dos estudos primários; 4) avaliação dos estudos primários incluídos na literatura; 5) análise e síntese do resultado da verificação e; 6) apresentação da revisão integrativa (9).
Para elaboração da questão norteadora foi aplicada a estratégia PICo (P: População; I: Intervenção ou Interesse; Co: Contexto). Sendo empregada para construção de estudos não clínicos. O acrônimo pode ser válido para chegar a diversas questões, além de provê definições adequadas e necessárias para abordar questões da pesquisa, potencializando a recuperação de evidências nas diversas bases de dados, deste modo, focando no propósito da pesquisa e evitando a realização de buscas desnecessárias (10). Diante disso, buscou-se investigar a seguinte questão norteadora: “Qual a importância da ludoterapia infantil no contexto hospitalar?”
As buscas na literatura foram realizadas em outubro de 2022, nas seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via PUBMED, Cumulative Index of Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Web of Science, Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados em Enfermagem (BDENF) através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
Para as buscas, foram utilizado os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e seus equivalentes no Medical Subject Headings (MeSH): Criança (Child); Ludoterapia (Play Therapy); Hospitais (Hospitals); Criança Hospitalizada (Child, Hospitalized), assim como descritores não controlados: Crianças, Hospital, com auxílio dos operadores booleano “AND” e “OR”. conforme apresenta no Quadro 1.
Quadro 1 - Definição dos descritores controlados e não controlados para a busca de dados da revisão integrativa sobre a ludoterapia infantil no contexto hospitalar, 2022.
PICo |
DeCS |
MeSH |
|
P |
(População) |
Criança |
Child |
I |
(Intervenção ou Interesse) |
Ludoterapia |
Play Therapy |
Co |
(Contexto) |
- Hospitais - Criança Hospitalizada |
- Hospitals - Child, Hospitalized |
Fonte: Os autores, 2022.
Foram adotados como critérios de inclusão: artigos originais, com texto completo, publicados em português, inglês e espanhol, indexados nas bases de dados consultadas entre 2012 e 2021 que abordassem sobre a ludoterapia infantil no contexto hospitalar, com o objetivo de ter tanto uma busca, como uma análise mais ampla. Foram excluídos artigos de revisão, teses, dissertações e aqueles que não atenderam ao objeto do estudo. Os artigos duplicados foram considerados apenas uma vez.
A pesquisa foi executada a partir da leitura analítica com a intenção de estruturar e sintetizar os dados encontrados nas fontes pesquisadas, para alcançar a resposta da questão norteadora. Os dados coletados durante a pesquisa foram agrupados para a definição do assunto principal em cada estudo pesquisado, bem como a formação de categorias pela similaridade semântica dos estudos, em que a discussão foi descritiva, baseada nos artigos trabalhados neste estudo (9).
RESULTADOS
A partir das buscas realizadas nas bases de dados, encontrou-se 76 artigos. Do total, 31 encontrados na MEDLINE via PUBMED, 09 na CINALH, 23 na Web of Science, 08 na LILACS e 05 na BDENF. Desses, foram excluídos 03 artigos duplicados, selecionando os demais para a leitura do título e resumo, excluindo-se após a etapa de triagem, por não se enquadrarem nos critérios do estudo. A etapa de elegibilidade resultou em 28 artigos, após isto, incluíram-se 16 artigos no estudo, conforme o fluxograma da Figura 1.
Destaca-se que para seleção das publicações, seguiram-se as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses – PRISMA (11), conforme apresentado na Figura 1, a seguir.
Figura 1 - Fluxograma de seleção dos estudos primários, elaborado a partir da recomendação PRISMA*. Teresina, PI, Brasil, 2022.
Fonte: Base de dados - Medline via PubMed, Cinahl, Web Of Science, Lilacs e Bdenf, 2022.
Nesta revisão integrativa foram analisados 16 artigos que atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos. Estudos publicados no período entre 2012 e 2021, destacando-se o ano de 2016, com maiores publicações, visto que seis foram publicados no mesmo ano. Observou- se que no ano de 2017 houve três publicações, seguido do ano de 2015 com duas, sendo os anos de 2012, 2013 2014, 2019 e 2020 apenas uma publicação. A abordagem metodológica mais frequente foi a de evidências de estudos descritivos. Em relação ao país publicado, o Brasil apresentou prevalência. Os artigos incluídos são do idioma português e inglês (Quadro 2).
Quadro 2 - Síntese dos estudos incluídos na revisão quanto ao código, autor/ano de publicação, título do estudo, base de dados, país de publicação, objetivos e principais resultados.
Código |
Autor (es)/ano |
Título do estudo |
Base de dados |
País publicado |
Objetivos |
Principais resultados |
A1 |
Santos et al., 2020 (12). |
Understanding the dramatic therapeutic play session: a contribution to pediatric nursing
|
MEDLINE via PUBMED |
Brasil |
Compreender como ocorre a sessão do brinquedo terapêutico dramático no cuidado à criança hospitalizada |
A pesquisa revelou que a sessão de brinquedo terapêutico dramático é um processo composto por quatro etapas interdependentes e complementares: vínculo, exploração, dramatização e cessação da brincadeira. |
A2 |
Simonat, Mitre, Sandra. 2019 (13). |
The hospital routine of children with prolonged hospitalizations: between body-care and possible mediations |
Web of Science |
Brasil |
Refletir sobre as experiências de hospitalização prolongada de crianças com condições crônicas e complexas que passam longos períodos hospitalizadas na fase inicial da vida |
Mostraram que o cotidiano dos sujeitos era engrenado numa íntima relação do corpo com o ambiente e a importância da mediação das mães e dos profissionais de saúde nesse cenário. |
A3 |
Silva et al., 2017 (14). |
Influence of Therapeutic Play on the anxiety of hospitalized school-age children: Clinical trial |
PUBMED via MEDLINE |
Brasil |
Avaliar os efeitos da aplicação da técnica do Brinquedo Terapêutico Dramático (BTD) no grau de ansiedade em crianças escolares hospitalizadas |
Foram analisados que a maioria das crianças apresentaram classificação de baixo grau de ansiedade quando comparadas com o grupo controle e o grupo de crianças que tiveram com intervenção o brinquedo terapêutico dramático |
A4 |
Falke, Milbrath, Freitag. 2018 (15). |
Percepción del equipo de enfermería sobre el enfoque lúdico al niño hospitalizado |
CINAHL |
Brasil |
Conhecer a percepção da equipe de enfermagem sobre a abordagem lúdica à criança hospitalizada |
Observou-se que a enfermagem não possui capacidade técnica e científica para usar a abordagem lúdica na prestação dos cuidados. |
A5 |
Mohammadi, Mehraban, Damavandi. 2017 (16). |
Effect of Play-based Occupational Therapy on Symptoms of Hospitalized Children with Cancer: A Single-subject Study |
MEDLINE via PUBMED |
Irã |
Investigar o efeito da terapia ocupacional baseada em brincadeiras na dor, ansiedade e fadiga em crinaças hospitalizadas com câncer que estavam recebendo quimioterapia |
O estudo mostrou diminuição da dor, fadiga e ansiedade em ambos participantes. |
A6 |
Li et al., 2016 (17). |
Play interventions to reduce anxiety and negative emotions in hospitalized children
|
CINAHL |
China |
Testar a eficacia das intervenções de brincadeiras hospitalares na minimização dos níveis de ansiedades e emoções negativas de crianças |
Os resultados mostraram que as crianças hospitalizadas que participaram das intervenções e experimentaram níveis significantes mais baixos de ansiedade do que aqueles que recebem apenas cuidados padrão. |
A7 |
Caleffi et al., 2016 (18). |
Contribution of structured therapeutic play in a nursing care model for hospitalised children |
MEDLINE via PUBMED |
Brasil |
Analisar a aplicação do brinquedo terapêutico em um modelo de cuidado de enfermagem e sua contribuição no cuidado à criança hospitalizada |
Verificou-se que ao brincar, a visão do ambiente hospitalar e dos profissionais torna-se menos negativa, diminuindo os prejuízos de uma hospitalização mal vivenciada. E, com a utilização do BT, percebeu-se que as crianças podem vir a compreender a necessidade da internação e poder vivenciar esse momento de forma tranquila. |
A8 |
Fioreti, Manzo, Regino. 2016 (19). |
A ludoterapia e a criança hospitalizada na perspectiva dos pais |
LILACS |
BRASIL |
Analisar o uso do brincar na assistência à criança hospitalizada na perspectiva dos pais |
Os achados evidenciaram que o brincar é um instrumento de grande valor para minimizar o estresse da internação e contribuir para melhor adaptação da criança ao ambiente hospitalar. |
A9 |
Marques et al., 2016 (20). |
Lúdico no cuidado à criança e ao adolescente com câncer: perspectivas da equipe de enfermagem |
LILACS |
Brasil |
Descrever a perspectiva da equipe de enfermagem sobre a utilização do lúdico no cuidado à criança e ao adolescente com câncer hospitalizada |
Os profissionais relataram a vivência do lúdico no cotidiano, incluindo os benefícios, reconheceram que existem inúmeras barreiras que dificultam e impedem o uso do lúdico no cotidiano e nas possibilidades no cuidado. |
A10 |
Dantas et al., 2016 (21). |
Use of therapeutic play during intravenous drug administration in children: exploratory study
|
CINAHL |
Brasil |
Identificar as reações de crianças durante a administração de medicamentos intravenosos antes e após a utilização de uma técnica de brinquedo terapêutico e analisar a percepção dos acompanhantes sobre a influência da técnica na preparação da criança para a administração medicamentosa |
Crianças que tiveram dificuldade em aceitar a medicação intravenosa, principalmente aquelas entre 4 e 6 anos, apresentaram mudanças comportamentais positivas após a utilização do brinquedo terapêutico. Os acompanhantes recomendaram o uso dessa técnica para melhorar o cuidado e reduzir o estresse. |
A11 |
Santos et al., 2016 (22). |
Nursing care through the perception of hospitalized children |
Web of Science |
Brasil |
Descrever a percepção de crianças hospitalizadas sobre os cuidados de enfermagem e compreender quais são, na perspectiva deles, as melhores formas de abordá-la na realização dos cuidados |
Sinalizaram a importância do brincar durante a internação, de uma abordagem amigável e carinhosa e de fornecer explicações sobre os procedimentos realizados. |
A12 |
Lima, Santos. 2015 (23). |
Play as a care strategy for children with cancer |
MEDLINE via PUBMED |
Brasil |
Compreender a influência do lúdico para o processo de cuidar, na percepção de crianças com câncer |
As atividades lúdicas proporcionaram diversão, sentimentos, alegria, distração e interações com outras pessoas, reduzindo o desconforto proveniente da internação. |
A13 |
Silva, Cabral. 2015 (24). |
Rescuing the pleasure of playing of child with cancer in a hospital setting |
MEDLINE via PUBMED |
Brasil |
Dimensionar os espaços e pessoas que atuam no brincar de crianças com câncer em tratamento ambulatorial |
Demonstraram que o espaço da brinquedoteca proporciona o brincar, disponibilizando logística com brinquedos, jogos e computadores. |
A14 |
Nicola et al., 2015 (25). |
Perceptions of the caregiver family member about playful care of the hospitalized child |
CINAHL |
Brasil |
Conhecer as necessidades do cuidador familiar sobre o cuidado lúdico da criança no hospital |
Notou-se que as familias vaorizam o espaço da brinquedoteca e visualizam sua importância na melhora do tratamento. |
A15 |
Potasz et al., 2013 (26). |
Effect of play activities on hospitalized children's stress: a randomized clinical trial |
Web of Science |
Brasil |
Investigar se as crinças que brincam durante o período de intervenção estavam menos estressadas em comparação com aquelas que não brincavam |
Os resultados demonstraram que a maioria dos grupos reduziram eficientemente os níveis de cortisol com atividade lúdica. |
A16 |
Lambert et al., 2013 (27). |
Social spaces for young children in hospital |
MEDLINE via PUBMED |
Irlanda |
Investigar as perspectivas das crianças pequenas sobre os espaços sociais hospitalares para informar o projeto do ambiente construído de um novo hospital infantil. |
Notou-se que a oferta de atividade de laser e entretenimento criou experiência hospitalar positiva para a criança e principalmente para aquelas que necessitam de intervenções regulares e prolongadas. |
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.
DISCUSSÃO
De acordo com os dados levantados a partir dos artigos selecionados, foi possível elencar três categorias descritas a seguir.
Importância da ludoterapia no contexto hospitalar
A criança hospitalizada, seja por um período curto ou prolongado, passa por um nível de estresse, devido ao ambiente e aos procedimentos invasivos realizados, desse modo, um dos métodos escolhido para redução dos danos durante a internação hospitalar é a ludoterapia, utilizando o brincar para aliviar o sofrimento. A literatura apresenta estudos clínicos a respeito do assunto, cooperando com os objetivos do estudo e considerando a importância da ludoterapia infantil no contexto hospitalar.
Em um estudo (14), é apontado em análise, que o hospital é o principal promotor para resgatar da criança o prazer de brincar. Os autores do estudo afirmam que a patologia limita a criança dos fatores sociais, provocando o distanciamento da família e da escola, o que faz necessário um ambiente que estimule o brincar. Além disso, os autores conceituaram o espaço onde é realizado as intervenções lúdicas como brinquedoteca hospitalar, definindo como um local que demanda esforço físico, apresentando variedades de jogos, atividades e materiais para produzir desenhos, sendo praticado para promover o desenvolvimento biopsicossocial infantil durante a internação, de forma a construir vínculo entre enfermeiro, familiares e paciente.
Corroborando com estes resultados, outro estudo (19), tem dissertado sobre o processo de confiança da criança no enfermeiro. Os autores afirmam que a presença da figura materna no início das sessões é indispensável para manter a tranquilidade da criança e para estimular a brincadeira.
A família compreende a importância do cuidado lúdico para crianças hospitalizadas, visto que elas já manifestam a necessidade de socializar e expressar suas vivências através do brincar, afirmando suas vantagens físicas, cognitivas, sociais, emocionais e psicológicas. Vale ressaltar que, durante a realização das sessões, a família se torna menos influente, visto que a criança já adquiriu confiança no enfermeiro e já não solicita a presença da mãe ou de outro familiar. O estudo evidenciou ainda que o brinquedo terapêutico, no modo de cuidado, permitiu que a criança construísse um laço afetivo de confiança com o profissional (25).
Além disso, outro estudo apontou que as crianças mais novas são as que mais necessitam do método lúdico, por apresentarem facilidade de aumentar cortisol no organismos, provando mudança de humor frequente, como estresse e tristeza. Dessa forma, percebeu-se que após participarem de atividades lúdicas, houve uma diminuição do hormônio cortisol em crianças de 7 a 11 anos. Porém em crianças de 4 a 7 anos, a intervenção não foi satisfatória pelo grau de imaturidade (26).
No entanto, em aprofundamento a respeito das intervenções lúdicas para redução da ansiedade em crianças de 3 a 12 anos de idade, submetidas a cuidados intensivos na UTI, estudiosos notaram que a maioria das crianças que receberam as intervenções lúdicas, reduziram os seus quadros de estresse e ansiedade, devido à compreensão da doença e dos procedimentos médico e de enfermagem, aumentando o sentimento de satisfação (17).
Mediante isso, percebeu-se que as crianças associaram o brincar com a alta hospitalar, evidenciando que a intervenção aplicada no dia a dia melhorava o prognóstico, fazendo com que recebecem alta (22). O ato de brincar e cuidar diariamente também influencia na forma de aproximação da rotina domiciliar dentro da normalidade ao que é habitual (13).
Desse modo, a terapia através do brincar permite que a criança possa expressar com mais facilidade os conflitos e dificuldades que está enfrentando. O brincar no hospital propõe que o ambiente seja alterado e crie uma proximidade da realidade do cotidiano que tem como ponto positivo em relação à hospitalização. A ludoterapia busca desenvolver atividades englobando o contexto do trabalho em equipe, tornando humanizado o trabalho da enfermagem, uma vez que envolve não só o contato com a criança, mas também com a família, buscando fortalecer vínculos e o bem-estar psicológico da criança.
Estratégias e técnicas da ludoterapia no contexto hospitalar
A ludoterapia envolve diversas estratégias para que a criança obtenha compreensão dos procedimentos realizados durante o tratamento, com o propósito de minimizar traumas, dor e sofrimento. O contexto em questão se enquadra com os achados de estudo realizado em 2016 (21), em que os autores discorrem que o uso do brinquedo terapêutico para administração de medicamentos por via endovenosa em crianças, realizando simulação da técnica em bonecos, deixa evidente a eficácia da estratégia, promovendo assim familiaridade, calma e segurança, impulsionando entendimento do procedimento.
Em consonância, é apoiado a técnica do brinquedo terapêutico em crianças, frisando ser uma intervenção fácil e econômica de se aplicar. Observou-se ainda que as crianças escolares não reduziram a ansiedade, devido à maioria já ter passado pelo brinquedo terapêutico dramático, atividade em que a criança expressa seus maiores medos seja por meio de desenhos ou bonecos terapêuticos. Ademais, salienta brevemente em relação à presença da família/mãe e ao acesso aos jogos eletrônicos para atenuação dos traumas enfrentados no ambiente (14).
Mediante isso, explana-se que o comportamento varia com a idade, visto que o grupo de crianças com faixa etária de 7 a 8 anos, apresentaram o passo a passo da administração do medicamento endovenoso, explicando a sua importância. Já as crianças de 4 a 6 anos, mostraram maior dificuldade para aceitar a medicação via endovenosa, passando por um processo de infelicidade, mas que após receber a sessão de brinquedoterapia, aceitaram os procedimentos invasivos (21).
Uma outra forma lúdica utilizada é a terapia ocupacional lúdica, aplicada de forma que o paciente escolha as brincadeiras através de um histórico de brincadeiras criado pelo profissional, com a finalidade de facilitar a participação da criança. Além do mais, percebeu- se que a terapia ocupacional lúdica impulsiona a participação da criança nas atividades lúdicas e têm sido benéficas, associando-se a redução da dor, da fadiga e ansiedade durante as intervenções (16).
Sobre a sessão de dramaturgia terapêutica, estudo tem a definido como um processo de quatro etapas interdependentes e complementares, classificadas em vínculo, exploração, dramatização e parar de brincar, de forma que esse processo ajuda no comportamento das crianças. Dessa forma, expondo as situações imaginárias exteriorizadas pela criança na importante fase de reconhecimento, para que tal situação imaginária aconteça através do psicológico das crianças (12).
Percebeu-se ainda que a utilização de dispositivos eletrônicos com propósito de promover bem-estar, como celulares, computadores e televisores, também foi tida como uma ferramenta de entretenimento da criança, dada a facilidade de acessibilidade e manuseio desses aparelhos, já que podem ser levados pelos pais, estabilizando a criança no leito por um longo período. Dessa forma, ressalta-se que o acesso à internet e a programas exclusivos para crianças seja investigado pelo enfermeiro e equipe multiprofissional, para que esse seja usado como mais uma estratégia (23).
No entanto, pesquisadores (27), têm discordado sobre o uso da tecnologia como um método lúdico. Apontando pontos importantes, como a falta de infraestrutura nos hospitais, dificuldade ao acesso à internet, abordagem personalizada para determinada faixa etária e fornecimentos de limites, a fim de que o brincar seja implantado, existindo assim comunicação e expressão de sentimentos.
Diante disso, ficou evidenciado que, ao brincar, o olhar para o ambiente hospitalar e para os profissionais se torna menos negativo, minimizando os danos de uma hospitalização desarmonicamente vivenciada. Porém com o uso do brinquedo terapêutico ficou perceptível que as crianças de alguma forma compreendem a internação e conseguem viver esse momento de modo tranquilo (18).
Considera-se que neste modelo de cuidado, há chances de ser utilizado além do meio hospitalar, visto que a intervenção é acessível e econômica, mostrando a possibilidade de ser incluído no âmbito hospitalar. Vale frisar que se faz necessário a colaboração do hospital, aprimorando a infraestrutura e propondo aos profissionais capacitação adequada para a abordagem terapêutica.
Limitações encontradas na assistência do enfermeiro durante a realização da ludoterapia
Os profissionais compreendem a importância do brincar durante o tratamento, no entanto explanam sobre a falta de capacitação dos profissionais da área, já que a maior parte revelou que não construíram conhecimento e prática sobre o tema. Além disso, destacaram a carência de material, estrutura e tempo, impossibilitando o êxito da ludoterapia (15).
Percebeu-se assim, que o lúdico tem a possibilidade de ser experienciado em distintas áreas de atuação da enfermagem pediátrica, instigando a criatividade dos enfermeiros e tornando possível os benefícios do cuidar brincando. Todavia, vale destacar as dificuldades na utilidade do lúdico na prática de enfermagem. Percebe-se que tem sido bem desafiador para a prática de enfermagem dominar a diferença entre o lúdico e o cuidar, visto que os profissionais compreendem e confirmam que o lúdico é sim uma estratégia de cuidados, inúmeras vezes, mostrando assim uma visão reduzida a respeito de como agregar esse plano no cuidado de enfermagem (20).
Desde modo, cabe aos hospitais apoiarem a prática da ludoterapia, com o intuito de resgatar o cuidado da crianças, sendo benéfico para família e o trabalho da enfermagem, melhorando no prognóstico da criança. Além disso, a necessidade de promover treinamento, com a finalidade de a equipe desempenhar as estratégias lúdicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que os hospitais utilizam a ludoterapia como um método não farmacológico eficaz, reduzindo o medo, estresse e angústia, aumentando a segurança com os procedimentos realizados e a confiança da criança com os profissionais, estabelecendo assim uma relação de confiança com o paciente. Dessa forma, entende-se que a inserção do Enfermeiro nos hospitais fazendo o uso da ludoterapia promove benefícios tanto para os pacientes que serão atendidos em suas necessidades subjetivas, quanto para todo corpo técnico e administrativo, que terá um auxílio no sentido de agregar um instrumento a mais na promoção da saúde das crianças hospitalizados.
Observou-se que a ludoterapia apresenta benefícios positivos, além de reduzir o medo, estresse e angústia, aumentando a segurança com os procedimentos realizados e a confiança da criança com os profissionais, bem como o favorecimento da aprendizagem e da criatividade. Contudo, nota-se que os profissionais apresentam limitações na aplicação da intervenção, como falta de materiais, estrutura, tempo e carência da técnica para abordagem lúdica, para prestação dos serviços de enfermagem. Dessa forma, é essencial a capacitação dos profissionais para promoção de um ambiente agradável e seguro para a criança.
As limitações deste estudo se relacionam ao número de artigos encontrados, o que impede a generalização dos achados. No entanto, os resultados são considerados confiáveis, pois refletem condições semelhantes verificadas em pesquisas de maior abrangência, e ressaltam a necessidade de estudos complementares que envolvam o tema.
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Fomento e Agradecimento: Nada a declarar.
Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447
Editor Associado: Edirlei Machado dos-Santos. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1221-0377
Todos os autores contribuíram com a composição final