ARTIFGO ORIGINAL

 

AGEISMO E ESTEREÓTIPOS DO ENVELHECIMENTO

 

AGEISM AND STEREOTYPES OF AGING

 

EDADISMO Y ESTEREOTIPOS DEL ENVEJECIMIENTO

 

https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.1-art.2117

 

1Thallyta Juliana Pereira da Silva

2Stwisson Shelton de Eloi Lima

3Kátia de Oliveira Leite

4Cynthia Roberta Dias Torres Silva

5Khelyane Mesquita de Carvalho

6Guilherme Guarino de Moura Sá

7Juliana de Castro Nunes Pereira

 

1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-5954-9418

2Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-3507-1856

3Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-8830-3844

4Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira, Brasil. https://orcid.org//0000-0002-3331-2719

5Universidade Federal do Piauí, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-4270-3890

6Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Belo Jardim, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-3283-2656

7Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Belo Jardim, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-6831-1639

 

Autor correspondente

Thallyta Juliana Pereira da Silva

Rod. BR-232 S/N, km. 208, Pesqueira, PE, Brasil. 55200-000. contato: +55(87) 99166-1851, E-mail: thallyta9191@gmail.com

 

Submissão: 27-02-2024

Aprovado:  19-12-2023

 

RESUMO

Objetivo: identificar percepções e crenças acerca do ageismo vivenciado pela pessoa idosa. Metodologia: estudo qualitativo, elaborado por meio de grupo focal, realizado em Centro de Convivência da Pessoa Idosa, localizado no interior de Pernambuco. Foram incluídas pessoas idosas residentes do município que frequentava a instituição com domínio cognitivo preservado, avaliado por meio do Miniexame do Estado Mental. O grupo focal foi conduzido pela seguinte pergunta norteadora: “Você já se sentiu triste por ser idoso?”. Para captação legível do áudio utilizou-se dois aparelhos de MP3. O estudo seguiu as normas de pesquisa com seres humanos e foi aprovado pelo comitê de ética. Resultados: observou-se que o ageismo era vivenciado em situações do cotidiano, como filas, salas de atendimento e locais públicos. Embora os participantes relataram que a velhice não é um problema, eles pontuaram limitações acerca da pessoa idosa na comunidade, com o preconceito e estereótipos do envelhecimento. Com a análise das falas, foi possível identificar termos pejorativos e preconceituosos associados ao envelhecimento, como: “velho”, “gagá” e “brôca”, que associa-se a baixa autoestima e autoimagem negativa relatado durante o grupo focal. Conclusão: foi possível identificar informações e particularidades vivenciadas pela pessoa idosa acerca do ageismo, no qual fornece subsídios para desenvolvimento de intervenções em saúde para o enfrentamento e disseminação de informações sobre a temática.

Palavras-chaves:  Idoso; Etarismo; Controles Informais da Sociedade.

 

ABSTRACT

Objective: to identify perceptions and beliefs about ageism experienced by elderly people. Methodology: qualitative study, carried out through a focus group, carried out in an Elderly Community Center, located in the interior of Pernambuco. Elderly people living in the municipality who attended the institution with preserved cognitive domain, assessed through the Mini Mental State Examination, were included. The focus group was conducted by the following guiding question: “Have you ever felt sad about being elderly?” To capture the audio legibly, two MP3 players were used. The study followed human research standards and was approved by the ethics committee. Results: It was observed that ageism was experienced in everyday situations, such as queues, service rooms and public places. Although participants reported that old age is not a problem, they highlighted limitations regarding elderly people in the community, with prejudice and stereotypes about aging. With the analysis of the statements, it was possible to identify pejorative and prejudiced terms associated with aging, such as: “old”, “gagá” and “broca”, which are associated with low self-esteem and negative self-image reported during the focus group. Conclusion: it was possible to identify information and particularities experienced by elderly people regarding ageism, which provides support for the development of health interventions to combat and disseminate information on the topic.

Keywords: Aged; Ageism; Social Control, Formal.

 

RESUMEN

Objetivo: identificar percepciones y creencias sobre el edadismo experimentado por personas mayores. Metodología: estudio cualitativo, realizado a través de un grupo focal, realizado en un Centro Comunitario de Personas Mayores, ubicado en el interior de Pernambuco. Se incluyeron ancianos residentes en el municipio que asistieron a la institución con dominio cognitivo preservado, evaluado mediante el Mini Examen del Estado Mental. El grupo focal se llevó a cabo con la siguiente pregunta guía: “¿Alguna vez te has sentido triste por ser anciano?” Para capturar el audio de forma legible se utilizaron dos reproductores MP3. El estudio siguió los estándares de investigación en humanos y fue aprobado por el comité de ética. Resultados: Se observó que la discriminación por edad se experimenta en situaciones cotidianas, como colas, salas de servicio y lugares públicos. Aunque los participantes informaron que la vejez no es un problema, resaltaron limitaciones respecto de las personas mayores en la comunidad, con prejuicios y estereotipos sobre el envejecimiento. Con el análisis de las declaraciones fue posible identificar términos peyorativos y prejuiciosos asociados al envejecimiento, tales como: “viejo”, “gagá” y “broca”, los cuales se asocian con la baja autoestima y la autoimagen negativa reportada durante el grupo focal. Conclusión: fue posible identificar informaciones y particularidades vividas por las personas mayores en relación al edadismo, lo que brinda apoyo para el desarrollo de intervenciones en salud para combatir y difundir información sobre el tema.

Palabras clave: Anciano; Discriminación por Edad; Controles Informales de la Sociedad.

 

INTRODUÇÃO

O ageismo também chamado de etarismo ou idadismo refere se à discriminação ou preconceito geralmente direcionado às pessoas mais velhas, tendo como fator a idade. O termo inclui preconceito, aplicação de estereótipos e comportamentos de discriminação que tem como alvo as pessoas idosas1.

No que tange à origem, o ageismo pode ocorrer a partir de três níveis: o microestrutural, que emerge do próprio sujeito e dos pensamentos, emoções e ações dele; o mesoestrutural, que surge a partir dos grupos, organizações e outras entidades sociais; e o macroestrutural, que pode ser desenvolvido a partir dos valores culturais ou sociais como um todo. Independente da origem, o ageismo pode ser sutil e dificilmente notado, ou explícito e bem conhecido. Ele molda a percepção das pessoas idosas sobre as próprias habilidades e necessidades, bem como a visão das pessoas ao redor delas2.

O processo de envelhecimento ocorre em contextos de trajetórias heterogêneas de vida e por vezes marcados por situações conflituosas. Pode-se enfrentar múltiplas barreiras que agem negativamente no sentido de reduzir a participação no âmbito social, o que pode originar percepção de sentimentos de solidão, desvalorização e até mesmo produzir isolamento social3.

Estas barreiras podem ser produzidas a partir do ageismo, que produz pré-conceitos em relação às capacidades das pessoas idosas, enraíza mitos, gera discriminação que promove imagens estereotipadas, amplia a diminuição da participação social nas mais diversas dimensões da vida na família e em sociedade e dificulta a compreensão do envelhecimento como oportunidade e conquista da modernidade3.

Evidencia-se que o maior impasse é a necessidade de modificações culturais da comunidade, que exige a união de esforços da sociedade, do poder público e das instituições públicas e privadas de Educação Superior, no sentido de promover uma verdadeira mudança na mentalidade da população em relação às decisões políticas sobre o envelhecimento4.

O presente trabalho emerge do Grupo de Estudos e Pesquisas em Enfermagem Gerontológica (GEPEG) do Instituto Federal de Pernambuco e consiste na primeira etapa para desenvolvimento de tecnologia educacional. Com isso, o objetivo do estudo foi identificar percepções e crenças acerca do ageismo vivenciado pela pessoa idosa.

 

METODOLOGIA

Tratou-se de pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, no qual seguiu os critérios propostos na referência COREQ (Consolidated criteria for reporting qualitative research)5. O estudo foi realizado em Pesqueira, localizado no interior de Pernambuco, no Centro de Convivência da Pessoa Idosa (CCPI) instituição pública financiada pela secretaria do município, que oferta atividades assistenciais, educativas e recreativas para o público idoso, a fim de desenvolver serviços direcionados para promoção do envelhecimento saudável, autonomia, independência, socialização, fortalecimento dos vínculos familiares e sociais. 

Foram incluídos os participantes residentes do município que frequentava a instituição, com capacidade cognitiva preservada segundo o Miniexame do Estado mental6. Para coleta de dados, utilizou-se grupo focal, no qual consiste em técnica de pesquisa que coleta dados a partir de interações de grupo e discussão de determinadas temáticas. Trata-se de recurso utilizado para compreender as percepções, representações e atitudes sociais7-8. A amostra estabeleceu-se por conveniência e obedeceu às recomendações acerca do quantitativo de participantes de seis a dez participantes por grupo focal5,8.

Foram realizados dois grupos focais, com duas sessões que ocorreram no mês de setembro de 2022, no qual foram feitas no salão da instituição, organizado de forma adequada, com boa iluminação e temperatura para aplicação do instrumento e execução do grupo focal. Inicialmente, ocorreu a apresentação da pesquisa para os participantes e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Em seguida, houve a condução do grupo focal com auxílio de três pesquisadores treinados. Observou-se as expressões, comportamentos, bem como a captação legível do áudio por meio de dois aparelhos de MP3. Realizou-se a cronometragem do tempo dos grupos focais, que tiveram duração de aproximadamente 30 minutos cada.  Com isso, o debate surgiu a partir da seguinte pergunta norteadora: “Você já se sentiu triste por ser idoso?”.

A análise dos dados ocorreu por meio da observação minuciosa da falas quanto a percepção, sentimentos, opiniões e valores do grupo acerca do ageismo, por meio da observação dos pesquisadores durante o grupo focal e transcrição dos depoimentos, que foram posteriormente processadas no software interface de R pour les analyses multidimensionnelles de textes et de questionnaires (IRAMUTEQ), ferramenta que auxilia nos procedimentos metodológicos de análise textual9. Ocorreu a sumarização das palavras por meio da plataforma, em seguida a classificação hierárquica descendente. 

Para desenvolvimento do estudo, foram seguida as orientações do Conselho Nacional de Saúde sobre os aspectos éticos e legais de pesquisa que envolve seres humanos, nomeadas pela resolução 466/1210, com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Autarquia Educacional de Belo Jardim, aprovado em 09 de setembro de 2022, sob o Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE): 63327322.0.0000.5189 e número do parecer: 5.712.693

RESULTADOS

O grupo focal composto por 10 participantes do sexo feminino. Este forneceu informações subjetivas e particularizadas sobre o preconceito etário vivenciado pela pessoa idosa no contexto nordestino. As falas relatadas pelas mulheres evidenciaram as situações de preconceito em locais como no ambiente familiar, filas de espera, locais e transportes públicos.

Ao responder à pergunta norteadora “Você já se sentiu triste por ser idoso?”, 100% (n=10) responderam que “não”, foi expresso que o envelhecimento consiste em fase de redescobertas e liberdade. Contudo, ainda que para as participantes a velhice não seja um problema, foi pontuado limitações que ela impõe à pessoa idosa, como lentidão e dificuldade de manusear tecnologias, déficits cognitivos, sentimentos negativos referente a solidão e o preconceito etário. 

Após a sumarização das falas do grupo focal por meio do software IRAMUTEQ, foi constituída uma nuvem de palavras, nela conteve os principais termos pejorativos e desrespeitosos vivenciados pela pessoa idosa no seu cotidiano, como evidenciado na figura 1.  Observou-se que termos e estereótipos mais relatados pelo grupo, foram observados os mais presentes tais quais “velho”, “gagá” e “brôca”, estes referenciam as pessoas idosas de forma pejorativa, desrespeitosa e preconceituosa.

Figura 1 - Nuvem de palavras com adjetivos oriundos das gravações do grupo focal processadas com uso do IRAMUTEQ, Pesqueira-PE, Brasil, 2023.

Autoria própria

O quadro 1 aponta alguns trechos das falas das participantes, referentes a percepção e os sentimentos relacionados ao ageismo e estereótipos no processo do envelhecimento. Estas falas evidenciam o desrespeito dentro do convívio social e familiar, culminando na deturpação da autoimagem e autoestima, comprometendo dessa forma a saúde e bem-estar do indivíduo.

Quadro 1- Distribuição de falas do grupo focal quanto ao preconceito contra a idade vivenciado no cotidiano, Brasil, 2023.

Participante

Trecho de falas

 

 

p1

 

 “Eu tô com 72 anos, na minha carteira de identidade, mas na verdade tenho 73, mas não me acho velha, nem gosto de ser chamada de velha”

“Esse povo é muito engraçado, só porque tá velho tem a cara de pau em passar na frente da gente”.

“Minha irmã caçula me chama de “brôca” “doida” “gagá”.

“Tenho sentimento ruim, acho que não deveria ser assim”

 

p2

 “Eu tive sentimento de ser discriminada como uma pessoa assim: “gagá” que é idoso, não é mais inteligente”

“Verdade, às vezes escutamos muitas piadinhas”

“Gagá”

“[...] tem muitas pessoas jovens que são indiscretas que demonstram isso.”

“[...] mas tem horas que eu me olho no espelho e me acho velha [...]”

 

 

 

 

p3

“Eu nem ando de ônibus, a gente tem a carteirinha e eles não aceitam”

“Alguns não dão o respeito que a gente merece”

“Sou triste pelas limitações”

“Eu tenho orgulho de ter 84 anos, quero chegar aos 90 para dizer que cheguei aos 90 e tô andando, tô segura e até com a cabeça mais ou menos”

“Eu mesmo estou alegre e satisfeito com meus 82, tem gente que não chegou nem na metade”

“Gagá é um deles, inclusive é o que mais dizem. O principal.”

 

p4

“Mas menina tu tás tão velha!”

“Triste pela idade não, pelo contrário”

 

p5

“Brôco”

“Eu comecei a viver depois dos 60 e agora que estou vivendo’’

Autoria própria

DISCUSSÃO

Observou-se que o grupo focal foi composto predominantemente por mulheres. O processo de feminilização da população se dá em decorrência de existir mais mulheres do que homens no Brasil. Ainda que as mulheres sejam maioria na população, o processo de envelhecimento é vivenciado de forma particular, ademais e rodeada de eventos de discriminação em decorrência do gênero e da idade, especialmente numa sociedade a qual supervaloriza a juventude e estigmatiza o envelhecimento a uma situação de declínios e perdas11-12.

Verificou-se nas falas das participantes do grupo que o ageismo está presente especialmente no ambiente e convívio familiar e no uso de transportes públicos, o que contribui para o aumento do desrespeito com a pessoa idosa, e no comprometimento da saúde e bem-estar. Diante disso, a compreensão de que envelhecer é fisiológico e inerente a todo ser humano, a valorização da pessoa idosa deve ser pautada em tudo o que ela representa na sociedade e não reduzida a idade13-14.

            Em relação aos sentimentos e percepções acerca do envelhecimento, as participantes relataram não se sentirem mal por serem pessoas idosas, apesar do preconceito e limitações vivenciadas no cotidiano. O processo de envelhecimento associa-se a diversos estigmas negativos, principalmente para familiares, profissionais e pessoas mais jovens. Contudo, embora existam algumas limitações na velhice, observa-se que a maioria das pessoas idosas possuem percepção positiva do envelhecimento, no qual consideram como momento de maior tranquilidade e liberdade15.

Relacionadas aos estereótipos do envelhecimento estão as representações cognitivas, incluindo crenças sobre os estados físicos e mentais e as habilidades sociais dos idosos. Na maioria das vezes, os estereótipos levam a uma percepção comum das pessoas de uma certa idade como incompetentes, desatualizadas e dependentes16.

Os estereótipos são frequentemente formados e reforçados por meio de mensagens sociais, representações mediáticas e normas culturais. Estes estereótipos podem levar à perpetuação de atitudes negativas e de comportamentos discriminatórios em relação aos idosos. Isso ocorre porque a comunicação desempenha um papel na construção de significado e a mídia participa da formação da subjetividade ao expressar um conjunto de valores, conhecimentos e práticas sociais que moldam a identidade social17.

Durante o grupo focal, observou-se que a pessoa idosa vivencia o desrespeito dentro do seu convívio social e familiar. Evidencia-se que o ageismo pode prejudicar a saúde mental e ter impacto negativo no bem-estar e saúde da pessoa idosa. Além disso, relaciona-se com o aumento do isolamento social e o sentimento de solidão18-19. Dessa forma, conhecer e identificar o ageismo é fundamental para que as instituições e indivíduos percebam e modifiquem sua percepção em relação às pessoas idosas

O conceito do ageismo consiste em três dimensões: cognitiva que se relaciona a estereótipos negativos do envelhecimento; afetiva ligada ao preconceito; e comportamental associada a discriminação.  Além disso, o ageismo manifesta-se tanto de forma consciente quanto inconscientemente, e pode ser expresso de modo individual, social, institucional e cultural. Considera-se que para combate ao ageismo ser bem-sucedido, deve ser prioridade para os gestores, políticos e comunidade, além de considerar os fatores que abrangem os diferentes níveis e domínios20.

O Estatuto da Pessoa Idosa foi regulamentado pela Lei Nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, e garante os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos21. Ainda que exista este estatuto, às pessoas idosas não gozam de forma efetiva desses direitos, uma vez que, existem barreiras no acesso aos serviços disponíveis como filas e caixas preferenciais e transportes coletivos, o que contribui para o comprometimento na qualidade de vida. Portanto, torna-se fundamental, o reconhecimento, divulgação e implementação efetiva dos direitos estabelecidos por este Estatuto, para a efetivação do papel da pessoa idosa no contexto social e familiar22

O contato intergeracional se destaca como estratégia de prevenção e combate ao preconceito contra a idade da pessoa idosa. Além disso, ressalta a importância da criação de políticas públicas e a implementação de leis já vigentes em conjunto com ações educativas nesse combate. O ageismo carrega consigo consequências, como a segregação das diferentes faixas etárias, que resulta no comprometimento da qualidade de vida da pessoa idosa. Nesse sentido, a troca de vivências das diferentes idades possibilita a redução, quiçá pode extinguir essa forma de preconceito, sendo o ageismo. Ademais, com as políticas públicas vigentes, torna-se indispensável a divulgação e implementação do Estatuto do Idoso, este que garante direitos essenciais à pessoa idosa e permite que estes exerçam seu papel sociofamiliar na sociedade23.

Como limitação, este estudo apresenta realização da pesquisa com um reduzido grupo de pessoas idosas com características inerentes apenas a região nordeste do Brasil em uma cidade do interior de Pernambuco, o que provoca a realização de outros grupos focais em outros estados do país, a fim de comparar as diferentes realidades as quais o ageismo está presente e como é vivenciado o processo do envelhecimento. Ademais, situações de ageísmo não são relatados em outros contextos, como em serviços de saúde, situações de adoecimento, âmbito ocupacional, bem como nas instituições de longa permanência.

O estudo contribui para identificar a percepção do ageismo vivenciado pela pessoa idosa residente da comunidade no interior do nordeste brasileiro, no qual pode subsidiar a criação de estratégias e ferramentas para conscientização e combate da discriminação etária. Recomenda-se a realização de pesquisas nos demais contextos demográficos, sociais e culturais, a fim de conhecer e especificar a temática nos diferentes cenários nacionais e internacionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que as participantes vivenciaram o ageismo em situações do cotidiano, como no ambiente familiar e no uso de transportes públicos. Embora as pessoas idosas relataram que a velhice não seja problema, foi pontuado limitações do processo do envelhecimento dentro da comunidade, como o ageismo e estereótipos.

Por meio da análise linguística, foram identificados na comunicação termos depreciativos e preconceituosos associados ao processo de envelhecimento, tais como "velho", "brôca" e "gagá", os quais influenciam negativamente na autoestima e imagem pessoal. Observou-se que esses termos estão ligados às características físicas, cognitivas e estereotipadas relacionadas ao envelhecimento.

Este estudo possibilitou a identificação das especificidades enfrentadas pelas pessoas idosas acerca do ageismo, no qual poderá fornecer subsídios para o desenvolvimento de intervenções na área da saúde com objetivo de combater o ageismo e estereótipos do envelhecimento e difundir informações pertinentes.

 

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Fomento e Agradecimento: Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PROPESQ), Pesqueira-PE, Brasil.

Critérios de autoria (contribuições dos autores)

A designação de autoria deve ser baseada nas deliberações do ICMJE, que considera autor aquele que: 1. contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo: Silva TJP, Lima SSE, Leite KO, Silva CRDT

2. Obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados: Silva TJP, Leite KO, Lima SSE, Silva CRDT,

3. Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada: Silva TJP, Lima SSE, Leite KO, Silva CRDT, Sá GGM, Carvalho KM, Pereira JCN

Declaração de conflito de interesses

Nada a declarar

Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447


Rev Enferm Atual In Derme 2024;98(1): e024274

    Atribuição CC BY