ARTIGO DE OPINIÃO

TECENDO A SUSTENTABILIDADE: DA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL À SAÚDE PLANETÁRIA NA ESCOLA

 

WEAVING SUSTAINABILITY: FROM ENVIRONMENTAL AWARENESS TO PLANETARY HEALTH IN SCHOOLS

 

TEJIENDO LA SOSTENIBILIDAD: DE LA CONCIENCIA AMBIENTAL A LA SALUD PLANETARIA EN LA ESCUELA

 

https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.1-art.2121

 

1Iel Marciano de Moraes Filho

2Greyce Kelly Martins Dos Santos

3Gabryela Lira Leandro

4Giovana Galvão Tavares

1Universidade Evangélica de Goiás, programa de pós-graduação em Sociedade, Tecnologia e Meio ambiente. Anápolis, Goiás, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0798-3949

2Universidade Paulista, Curso de enfermagem do campus Brasília. Brasília, Distrito federal, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0000-2815-806X

3Universidade Paulista, Curso de enfermagem do campus Brasília. Brasília, Distrito federal, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0009-2994-8886

4Universidade Evangélica de Goiás, programa de pós-graduação em Sociedade, Tecnologia e Meio ambiente. Anápolis, Goiás, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5959-2897

Autor correspondente

Iel Marciano de Moraes Filho

Av. Universitária, s/n - Cidade Universitária, Anápolis – GO, CEP: 75083-515. E-mail: ielfilho@yahoo.com.br Telefone: +55 (62)98484-3593.

 

INTRODUÇÃO

            Em 1983, a médica norueguesa Gro Harlem Brundtland foi convidada pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para presidir a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Após quatro anos de trabalho, foi publicado o relatório "Nosso Futuro Comum", também conhecido como Relatório Brundtland, no qual traz, entre outras inovações, o conceito de desenvolvimento sustentável definido como "aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades"(1).

            Diante da abordagem proporcionada pelo conceito, emergiram novas perspectivas para analisar o futuro da espécie humana. Pode-se mencionar: a) entender o meio ambiente como um ponto crucial para debater a economia; b) promover a equidade; c) explorar formas de usufruir dos recursos naturais sem prejudicar sua extinção ou degradação do planeta; ou ainda, d) garantir o atendimento das necessidades essenciais da população mundial sem comprometer o futuro do planeta. Esses tópicos tornaram-se temas de discussão e possibilitaram que as diversas áreas do conhecimento apontassem para um posicionamento multi, inter e transdisciplinar a fim de compreender as inter-relações e interconexões que o conceito de desenvolvimento sustentável envolve.

            Nessa perspectiva, como o desenvolvimento sustentável pode ser incluído numa discussão de saúde? Os autores acreditam que a Saúde Planetária, enquanto um campo inter e transdisciplinar, possa contribuir para a sustentabilidade na medida em que esteja inserida numa abordagem educacional.

            Com o objetivo fundamental de capacitar jovens estudantes, essa perspectiva inovadora visa transformá-los em agentes efetivos de mudança climática dentro de suas próprias comunidades. Pois o contato com a natureza começa na infância, de tal modo que a percepção e a introdução às ciências naturais deveriam também ser proporcionadas ao longo dos primeiros anos de vida (2-3). Assim, é indiscutível a necessidade da inclusão da Saúde Planetária como uma abordagem educacional; desta forma, merece atenção significativa no cenário educacional.

            De forma que a aprendizagem com a natureza estimula a criança holisticamente, tornando-a parte do meio, de forma que as vivências de ensino com a natureza perpetuarão o vínculo que já existe nelas com a sua essência até a velhice (4). Diante dos desafios ambientais crescentes e das consequências globais das ações humanas, a implementação da Saúde Planetária no sistema educacional mostra-se não apenas relevante, mas imperativa e crucial para preparar as futuras gerações para enfrentar e mitigar os impactos adversos no meio ambiente (5).  

            Além disso, ao adotar a Saúde Planetária como uma ferramenta educativa, o processo de ensino e aprendizagem alinhar-se-á com as tendências globais de conscientização ambiental e sustentabilidade. Essa abordagem não apenas oferece uma compreensão aprofundada das interconexões entre a saúde humana e o equilíbrio dos ecossistemas, mas também incute nos estudantes um senso de responsabilidade ecológica. A integração dessa perspectiva nos currículos educacionais não apenas contribui para a formação de cidadãos conscientes, mas também promove a construção de comunidades mais resilientes e preparadas para enfrentar os desafios climáticos emergentes (2-3,5).

            Ademais, a Saúde Planetária oferece uma oportunidade célebre de envolver os alunos em ações práticas e projetos com impactos tangíveis em suas localidades. Ao capacitá-los como agentes de transformações climáticas, essa abordagem não apenas amplia o escopo da Educação Ambiental, mas também catalisa mudanças significativas no comportamento e nas práticas cotidianas.

            Nesse contexto, a Saúde Planetária, em consonância com a Educação Ambiental, é um instrumento que promove tanto a preservação do meio ambiente quanto a promoção da saúde. A Saúde Planetária e a Educação Ambiental transcendem o papel tradicional da educação, tornando-se um instrumento vital para forjar uma nova geração de cidadãos comprometidos com a preservação do planeta e a construção de um futuro mais sustentável, bem como para a promoção da saúde de suas comunidades.

DESENVOLVIMENTO     

            Por que esta conscientização na escola é vital?

            A sustentabilidade é a capacidade do uso consciente dos recursos naturais sem comprometer o bem-estar das gerações futuras. Seu objetivo principal é encontrar o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, ou seja, o equilíbrio entre seres humanos e não humanos (6).

            Entretanto, é evidente que para a efetivação desse conceito, é necessário romper com paradigmas em uma sociedade contraditória, que se apropria dos recursos naturais de forma excessiva sem se preocupar com os riscos futuros. Desde a instauração do movimento ecológico até os dias atuais, com a implementação da Agenda 2030 e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), busca-se esta conscientização para a harmonia entre seres humanos e não humanos (7-8).

            A promoção de estratégias educativas constitui um processo de reconhecimento de valores e esclarecimento de conceitos, com o objetivo de desenvolver competências e modificar atitudes em relação ao meio ambiente. Portanto, compreender e valorizar as interações entre as pessoas, suas culturas e o ambiente biofísico pode mitigar tais desenroles.

            Partindo do pressuposto de que, no âmbito das interações entre atividades humanas e não humanas, os impactos ambientais são definidos como quaisquer alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do ambiente, sendo considerados como resultados diretos das ações humanas. Esses impactos podem ter tanto efeitos positivos quanto negativos, sendo estes últimos particularmente preocupantes, pois afetam de maneira direta ou indireta a saúde, segurança e bem-estar da população (9).

            É fundamental pensar a saúde e as ações de forma planetária. O conceito de Saúde Planetária aparece como um novo movimento global que reconhece a importância da harmonia entre sistemas naturais e humanos para garantir a saúde da civilização. Nesse contexto, sistemas de saúde e profissionais de saúde desempenham um papel fundamental na promoção da Saúde Planetária, capacitando a população e conscientizando sobre os impactos da atividade humana no meio ambiente e na saúde (10-11).

            Portanto, ao considerar a Educação Ambiental como promotora de saúde, enfatiza-se a conexão intrínseca entre os seres humanos e o meio ambiente. Essa abordagem não separa hierarquicamente diferentes níveis de importância para a manutenção da vida. Pelo contrário, propõe a integração do ser humano ao sistema vivo, conferindo-lhe a responsabilidade pela conservação como um todo. Nesse contexto, a Saúde Planetária respaldada pela Educação Ambiental desempenha um papel fundamental para conscientizar a população, ampliar o entendimento ambiental e mitigar os impactos ambientais na saúde (8,12).  

            Assim, a unidade escolar é o ambiente oportuno para tais feitos, pois pode ser compreendida como um espaço multiplicador de transformações individuais e coletivas. Dessa forma, a escola se apresenta como um importante fator nas práticas do processo de saúde dos estudantes, por se tratar de um ambiente rico e construtivo. Adicionado a este contexto, os estudantes a reconhecem como um local facilitador das relações de caráter inter e intrapessoais e da visão de mundo (13).  

            Em concordância, a saúde na escola é fundamentada por ações no âmbito escolar em prol da promoção da saúde e prevenção de doenças. Nesse sentido, a escola pode exercer um papel fundamental na condução educativa e, logo, nas práticas saudáveis, gerando estímulos para a prevenção de doenças desde a infância, podendo contribuir para torná-los adultos mais saudáveis e conscientes (13).

            Em ínterim, os educadores devem concentrar-se em ensinar os alunos a avaliar criticamente os dados sobre sustentabilidade e a desenvolver soluções inovadoras para os desafios ambientais. Logo, é de suma importância a incorporação de projetos práticos, utilizando metodologias ativas que possibilitem o desenvolvimento de habilidades e competências relacionadas ao cuidado do planeta. No entanto, é necessário destacar que, para o sucesso dessa abordagem, os educadores precisam ser capacitados (5).

            Prontamente, para alcançar esse objetivo a nível do Brasil, é necessário aprimorar a colaboração entre os Ministérios da Saúde e da Educação. Isso permitirá a implementação efetiva da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795, de 27 de abril de 1999), com foco na saúde, visando a redução dos impactos ambientais que já fazem parte do nosso cotidiano e, consequentemente, diminuindo os riscos à saúde e logo promovendo a Saúde Planetária (10-12).

            Além disso, é fundamental esclarecer as responsabilidades de cada setor dentro dessa política. A legislação existente, como a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, e o Decreto nº 4.281, de 25 de junho de 2002 (que dispõem sobre a Educação Ambiental, instituem a Política Nacional de Educação Ambiental, regulamentam a Lei no 9.795 e dão outras providências), mas carece de uma descrição clara sobre a integração entre as diversas áreas governamentais, principalmente no que tange "saúde e educação", buscando reduzir os impactos ambientais que afetam a saúde (12-15).   

            Em resumo, ressalta-se a consonância entre Saúde Planetária e Educação Ambiental como promotoras de mudanças de comportamento e atitudes, abordando as diversas necessidades sociais, mentais, biológicas e econômicas da população no contexto dos impactos ambientais e do cumprimento dos objetivos do desenvolvimento sustentável. A Saúde Planetária emerge como o caminho para consolidar essa integração, representando uma ferramenta educativa essencial ao capacitar estudantes como agentes de transformação climática. Destaca-se também o papel crucial da unidade escolar na facilitação das relações interpessoais, na formação da visão de mundo e na compreensão dos impactos ambientais. Assim, a implementação proposta visa mitigar os impactos ambientais, conscientizar a população e promover a Saúde Ambiental e Planetária, alinhando-se aos objetivos do desenvolvimento sustentável. Em síntese, os ambientes sustentáveis visam equilibrar a relação entre seres humanos e não humanos, fortalecendo a promoção da Saúde Planetária.

            Ou seja, a Saúde Planetária associada à Educação Ambiental caracteriza-se de forma extremamente direta e eficaz para a mudança de determinados comportamentos de risco. Por fim, conseguiremos promover ambientes mais sustentáveis para alcançar uma maior harmonia entre a relação seres humanos e não humanos e, consequentemente, a promoção da Saúde Planetária.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A Saúde Planetária, em consonância com a Educação Ambiental, emerge como uma ferramenta educativa substancial a ser amplamente adotada e discutida no sistema educacional. Seu propósito consiste em capacitar jovens estudantes a atuarem como agentes de transformação climática em suas comunidades, e a unidade escolar se torna o local facilitador das relações de caráter inter e intrapessoais e da visão de mundo, auxiliando nessa compreensão. Assim, essa implementação contribuirá para a mitigação dos impactos ambientais, a conscientização da população e a promoção da saúde ambiental e planetária. Além disso, é um passo significativo no alcance dos objetivos do desenvolvimento sustentável.

 

REFERÊNCIAS

  1. Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso futuro Comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação GetulioVargas;1991.
  2. Zanela MAF, Camargo TS de. Saúde planetária como ferramenta de ensino na educação básica. In: Anais do Salão UFRGS 2023: SIC - XXXV SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFRGS; 2023 nov 1; Porto alegre, Brasil. Available from: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/270259/Resumo_83684.pdf?sequence=1
  3. Barbosa VDM, Braz VS, Tavares GG. Relação entre a aprendizagem significativa e o contato com a natureza. Científic@ - Multidisciplinary J [Internet]. 2023; 10(2):1-16. doi: https://doi.org/10.37951/2358-260X.2023v10i2.6841
  4. Barbarulo A, Hartung P. Legal Policy Brief: O direito das crianças e dos adolescentes à natureza   e   a   um   ambiente   saudável.   Livro eletrônico, 1ª ed. São Paulo: Instituto Alana; 2022.
  5. Baena-Morales S, Fröberg A. Towards a more sustainable future: simple recommendations to integrate planetary health into education. Lancet Planet Health.2023; 7: e868–73. doi: https://doi.org/10.1016/S2542-5196(23)00194-8
  6. Gonçalves CWP. Os (des) caminhos do meio ambiente. 1. ed. São Paulo: Contexto; 1989. 152 p.
  7. Cruz DKA, Nóbrega AA, Montenegro MMS, Pereira VOM. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e as fontes de dados para o monitoramento das metas no Brasil. Epidemiol Serv Saúde [Internet]. 2022;31(spe1):e20211047. Available from: https://doi.org/10.1590/SS2237-9622202200010.especial
  8. Tavares GG, França CSB. Percepção, riscos e escolas: educação ambiental nos arredores dos riscos geofísicos. REVISEA [Internet]. 2023; 10:1-15. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/revisea/article/view/19070
  9. Cruz FC, Cruz AC, Rossato MV, Identificação e avaliação de Impactos Ambientais: um estudo de caso, Rev Centro Ciências Naturais e Exata. 2014.18(02): 777-791.
  10. Moraes-Filho IM, Tavares GG. Aprimorando a saúde planetária através da atenção primária à saúde: Possibilidades de Implementação. REVISA. 2023; 12(3): 439-442. Doi: https://doi.org/10.36239/revisa.v12.n3.p439a442
  11. Moraes-Filho IM, Rangel LEP, Range ET, Souza GB, Tavares GG. Febre Maculosa: Transmissão, Sintomas, Diagnóstico e Impacto Ambiental - Um Repensar para a Saúde Planetária. REVISA.2023;12(4): 734-7. Doi: https://doi.org/10.36239/revisa.v12.n4.p734a737
  12. Dias DO, Lemes GA, Oliveira HÁ. A educação ambiental como meio de promoção de saúde. Educação ambiental em ação. 2018;XXI(84):1-21. Disponível em: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=3408.
  13. Leão KCS, Sousa TV, Pereira MC, Silva RM, Santos JC, Moraes-Filho IM. Associação entre anos escolares, medidas antropométricas e pressóricas: o trabalho da enfermagem. enferm.actual.cr. 2021; 41:  47080 doi: http://dx.doi.org/10.15517/revenf.v0i41.42832.
  14. Cervera DPP, Parreira BDM, Goulart BF. Educação em saúde: percepção dos enfermeiros da atenção básica em Uberaba (MG). Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2011;16:1547–54. Available from: https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000700090

15.  Moraes-Filho IM, Henrique VHO, Tavares GG.  Racismo Ambiental e Saúde Planetária na Atenção Primária à Saúde:  O Papel Transformador da Enfermagem. REVISA.2024;13(1): 1-5 Doi: https://doi.org/10.36239/revisa.v12.n4.p1a5

 

Fomento e Agradecimento: financiamento próprio.

Critérios de autoria (contribuições dos autores)

 

Declaração de conflito de interesses

 “Nada a declarar”.

 

Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447
Editor Associado: Edirlei Machado dos-Santos. Orcid: 
https://orcid.org/0000-0002-1221-0377

 

Rev Enferm Atual In Derme 2024;98(1): e024264