EDITORIAL
CUIDADOS ÀS PESSOAS COM ESTOMIA
CARE FOR PEOPLE WITH OSTOMY
CUIDADO DE PERSONAS CON ESTOMIA
https://doi.org/10.31011/reaid-2025-v.99-n.2-art.2558
1Francisca Aline Arrais Sampaio Santos
1Doutora em Enfermagem. Docente, Universidade Federal do Maranhão, Imperatriz, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4763-2537. E-mail: francisca.aline@ufma.br
Submissão: 30-04-2025
Aprovado: 30-04-2025
A pessoa com estomia passa por alterações importantes em relação à representação do seu corpo, estado mental, em suas práticas, experiências, no relacionamento familiar, sexual e nas relações cotidianas. Tais aspectos impactam em sua qualidade de vida global repercutindo na sua autonomia. Por isso, uma abordagem integral do cuidado visa conhecer e verificar as diversas necessidades da pessoa, a fim de abordar o máximo de questões potenciais (1).
Desta forma, a presença da estomia impele a necessidade de recriar outras formas de conviver em decorrência das diversas mudanças adaptativas. São inúmeros sentimentos associados a partir do uso da bolsa coletora, que muitas vezes, implicam em vivências autodepreciativas, além de auto eficácia reduzida, senso de incapacitação crônica, inutilidade, e outras questões emocionais (2). Como forma de atender a essas diferentes necessidades de enfrentamento, o manejo do cuidado deve voltar-se para atender questões de segurança, conforto, higiene, praticidade e qualidade de vida da pessoa.
Devido às modificações em sua fisiologia habitual, os portadores de estomias podem se ver diferentes das outras pessoas em seus ciclos sociais, e acabam por se auto segregar, dissolvendo relações com amigos e familiares (3). Diante de uma situação de saúde tão complexa, é fundamental que o enfermeiro, além da qualificação técnica, evidencie fatores de reabilitação, aceitação e recuperação considerando que as necessidades podem mudar constantemente, incluindo aquelas relacionadas ao cuidado da estomia.
Compreender a rotina, os hábitos, as características fisiológicas do estoma e as expectativas da pessoa pode favorecer a mediação do cuidado e auxiliar na tomada de decisão. Assim, para favorecer a confiança no manejo e autocuidado do paciente, faz-se necessário o seguimento de recomendações e consensos científicos.
O Conselho Mundial de Terapeutas Enterostomais® (WCET®) recomenda suas diretrizes internacionais que oferecem subsídio a assistência a pessoas com estomia. Quatro categorias apontam para o desenvolvimento de intervenções mais relevantes, compreendendo a multidimensionalidade do cuidado. São elas: Educação e âmbito da prática, abordagem holística, necessidades de cuidado pré-operatório e necessidades de cuidado pós-operatório (1).
Na categoria de Educação recomenda-se oferecer à pessoa conhecimentos e estratégias para favorecer uma experiência positiva de cuidado. Intervenções educativas possibilitam mais autoconfiança diante das realidades adaptativas e promovem o desenvolvimento de habilidades no cuidado a estomas. Ressalta-se ainda a importância de um enfermeiro especialista para a prestação da assistência à pessoa e seus familiares, de modo a apresentar recursos mais apropriados a cada realidade.
Quanto aos aspectos holísticos dos cuidados deve-se considerar fatores culturais, crenças religiosas, idade, fatores familiares, bem como aspectos subjetivos que podem estar relacionados à qualidade de vida. Compreendendo o cuidado como uma ação coparticipativa faz-se necessário a discussão de fatores econômicos, relacionados a imagem, sexualidade e outros apontados durante o desenvolvimento do processo terapêutico.
No que concerne aos cuidados pré-operatórios a demarcação do local da estomia por um estomaterapeuta compreende uma das principais intervenções para prevenção de complicações futuras e possibilita maior sucesso para a recuperação cirúrgica. O procedimento considera as características corporais, o estilo de vida, os hábitos e marcos anatômicos, como local do músculo reto abdominal, cicatrizes, linha da cintura e dobras cutâneas.
Por fim, na categoria dos cuidados pós-operatórios, busca-se prevenir e gerir os riscos de complicações periestomais. O uso de instrumentos de avaliação de estomas validados cientificamente, podem favorecer a padronização do cuidado e a identificação de fatores de complicação. O uso de dispositivos coletores duráveis e bem aderidos à pele, bem como o uso de produtos protetores da pele contra os efluentes, são fundamentais para o fortalecimento da confiança e adesão aos cuidados do tratamento da estomia. A preocupação e as más experiências de vazamentos anteriores, tornam a escolha apropriada dos equipamentos coletores e adjuvantes uma solução fundamental.
Por isso, mais uma vez, recomenda-se a intervenção de um Enfermeiro especialista na execução de um plano de cuidados que concilie as especificidades e expectativas da pessoa e seus familiares. As intervenções do estomaterapeuta devem ocorrer preferencialmente nos primeiros 14 dias após o procedimento cirúrgico. Este considera como principais fatores na sua assistência: perfil corporal; saúde da pele periestoma; eficácia dos produtos utilizados anteriormente e aqueles que possam ser mais assertivos.
Nesse sentido, no documento do Consenso Global de Prática Clínica para os cuidados com Estomia são apontados seis pontos para a avaliação física da área do estoma, são eles: o formato da área periestomal, a forma da abertura do estoma, presença de flacidez redor, presença de pregas cutâneas, localização estomal em relação a cicatriz umbilical e protrusão do estoma em relação a superfície corporal (4).
A partir da identificação dessas características, busca-se escolher equipamentos de qualidade que contribuam para a reabilitação da estomia e garantam o bem-estar da pessoa. A escolha do melhor sistema de bolsa e equipamentos auxiliares devem estar intrinsecamente associados aos objetivos do plano de cuidados, bem como às condições da pessoa, incluindo o seu nível de conhecimento sobre sua condição de saúde.
Acredita-se que viver com estomia seja um desafio para a maioria das pessoas, assim a definição de melhores práticas do cuidado deve proporcionar o empoderamento, o desenvolvimento do autocuidado, o apoio e aceitação das adaptações da estomia. Assim, o acompanhamento regular e direcionado às pessoas com estomia, deve ser garantido como forma de manter a eficácia das intervenções implementadas e a longitudinalidade do atendimento quando necessário.
1. Chabal LO, Prentice JL, Ayello EA. Practice Implications from the WCET® International Ostomy Guideline 2020. Adv Skin Wound Care. 2021 Jun 1;34(6):293-300. doi: 10.1097/01.ASW.0000742888.02025.d6. PMID: 33979817.
2. Batista MRFF, Rocha FCV, Silva DMG, Silva Júnior FJG. Autoimagem e autocuidado na vivência de pacientes estomizados: o olhar da enfermagem. REME Rev Min Enferm. [Internet]. 9 nov 2017 [citado 2025 abr 25];21. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/reme/article/view/49861.
3. Freire DA, Angelim RCM, Souza NR, Brandão BMGM, Torres KMS, Serrano SQ. Autoimagem e autocuidado na vivência de pacientes estomizados: o olhar da enfermagem. Rev Mineira Enfermagem. 2017;21: e-101. Doi: http://www.dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20170029.
4. Colwell JC, Bain KA, Hansen AS, Droste W, Vendelbo G, James-Reid S. International Consensus Results: Development of Practice Guidelines for Assessment of Peristomal Body and Stoma Profiles, Patient Engagement, and Patient Follow-up. J Wound, Ostomy Continence Nursing. 2019;46(6): 497-504. Doi: 10.1097/WON.0000000000000599
Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519
Rev Enferm Atual In Derme 2025;99(2): e025061