EDITORIAL

 

TECNOLOGIAS MÓVEIS NA SAÚDE MENTAL: POTENCIAL E LIMITES DO RASTREIO DIGITAL

 

MOBILE TECHNOLOGIES IN MENTAL HEALTH: POTENTIAL AND LIMITS OF DIGITAL SCREENING

 

 TECNOLOGÍAS MÓVILES EN LA SALUD MENTAL: POTENCIAL Y LÍMITES DEL RASTREO DIGITAL

 

https://doi.org/10.31011/reaid-2025-v.99-n.4-art.2669

 

1Daniel de Macêdo Rocha

2Breno da Silva Oliveira

3Iara Barbosa Ramos

4Muriel Fernanda de Lima

 

1Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Coxim, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1709-2143

2Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Coxim, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0008-0950-2951

3Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Coxim, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1608-4336

4Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Coxim, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9812-659X

 

Autor correspondente

Daniel de Macêdo Rocha

General Mendes de Moraes, 369, Jardim Novo Mato Grosso, Coxim, Mato Grosso do Sul, Brasil. CEP: 7940000, contato: +55 (16) 99256-0204, E-mail: daniel.macedo@ufms.br.

 

Submissão: 14-10-2025

Aprovado: 15-10-2025

 

Estratégias tecnológicas para prevenção e manejo de eventos em saúde mental são amplamente referenciadas para identificar grupos vulneráveis​, apoiar o raciocínio clínico, direcionar a tomada de decisão e os encaminhamentos adequados. Destacam-se, nessa perspectiva, as tecnologias móveis que se caracterizam pelo fácil acesso, ampla disponibilidade, possibilidades de armazenamento e compartilhamento de dados, assim como pelas suas potencialidades de incorporação em políticas públicas de saúde para rastreio digital de condições e comportamentos de riscos na população brasileira(1).

As tecnologias móveis em saúde associam-se a melhorias nos indicadores de comunicação, gerenciamento de risco e aprimoramento do conhecimento, habilidades e competências profissionais, resultando na maior eficiência do sistema em termos de desempenho, equidade, segurança e eficiência. Como ferramentas que facilitam o rastreio digital de condições psicossociais ao promover o monitoramento remoto de marcadores individuais, psicológicos, sociais e ambientais que contribuem para o maior risco. Ainda, sua aplicação em diferentes contextos, como na Atenção Primária à Saúde (APS) e os serviços domiciliares, é promissora para a efetivação das políticas públicas de saúde mental no Brasil(2).

Dispositivos de cuidados primários e atendimento domiciliar desempenham um papel crucial no gerenciamento de fatores de risco e na implementação de intervenções oportunas para indivíduos que não acessam espontaneamente os serviços de saúde devido barreiras geográficas, sociais, clínicas ou psicológicas. O isolamento social, os sintomas de ansiedade, depressão e o estigma vivenciados pelos pacientes e familiares reduzem a busca por cuidados de saúde mental, limitam o acesso aos serviços formais de saúde para avaliação adequada e intervenção oportuna, e aumentam substancialmente o risco de eventos graves(2-3).

Assim, fornecer ferramentas móveis, interativas, validadas e acessíveis que permitam o rastreio e que ampliem o alcance das ações de prevenção é fundamental para melhorar a qualidade do atendimento em diferentes pontos da rede de atenção. Além disso, expandir o escopo das ações de triagem para além dos limites físicos dos serviços de saúde é um movimento estratégico para a prevenção e o controle de riscos psicossociais(1,4).

Apesar do crescimento no desenvolvimento de tecnologias móveis voltadas ao gerenciamento de condições relacionadas à saúde mental, lacunas sociotécnicas, éticas e institucionais devem ser sistematicamente consideradas, tendo em vista que podem representar desafios para o rastreamento digital e limitar o fornecimento de respostas rápidas e eficazes nos indicadores de saúde mental da população brasileira(5).

A heterogeneidade da infraestrutura tecnológica nos serviços de saúde e a dependência do acesso à internet e da disponibilidade de dispositivos móveis podem reduzir o desempenho dessas tecnologias no sistema público. As barreiras sociotécnicas evidenciam as altas taxas de analfabetismo digital entre profissionais de saúde, expressas por dificuldades no manuseio de dispositivos móveis e pela resistência a mudanças nos processos de trabalho. Preocupações adicionais envolvem aspectos éticos e legais no armazenamento, privacidade e segurança de dados, especialmente diante de condições sensíveis, como o adoecimento mental em populações vulneráveis. É importante ressaltar que os eventos em saúde mental não são estáticos e podem ser influenciados por diversos fatores. Ainda que, apesar das contribuições tecnológicas, os recursos móveis para rastreio digital não substituem a anamnese ou a avaliação clínica especializada(6).

Embora sejam evidentes essas barreiras, oferecer tecnologias móveis adaptadas às demandas populacionais e validadas para os diferentes contextos regionais do Brasil, demonstra sua relevância, acessibilidade e inovação para rastrear marcadores de vulnerabilidade e para incorporação como dispositivos adjuvantes das políticas públicas de saúde mental no Brasil. O reconhecimento de lacunas que permeiam essa temática permite o desenvolvimento futuros para garantir a usabilidade, a transparência e a reprodutibilidade de intervenções digitais, bem como sua efetividade nas taxas de sucesso de encaminhamento e a prevenção de episódios críticos.

REFERÊNCIAS

1 Rocha DM, Oliveira AC, Bezerra SMG, Sousa LRM, Alves RS, Oliveira BS, et al. GerenciaVida: Validity Evidence of a Mobile Application for Suicide Behavior Management. Int J Environ Res Public Health. 2025;22(7):1115. Available from: https://doi.org/10.3390/ijerph22071115.

2 Groen G, Jörns-Presentati A, Dessauvagie A, Seedat S, van den Heuvel LL, Suliman S, et al. Development of a Mobile Application for Detection of Adolescent Mental Health Problems and Feasibility Assessment with Primary Health Care Workers. Issues Ment Health Nurs. 2022 Nov;43(11):1046-1055. Available from: https://doi.org/10.1080/01612840.2022.2124003.

3 Baek SU, Yoon JH. Prolonged social withdrawal ("hikikomori") and its associations with depressive symptoms and suicidal ideation among young adults in Korea: Findings from the 2022 Youth Life Survey. J Affect Disord. 2025 Jul 15;381:514-517. Available from: https://doi.org/10.1016/j.jad.2025.04.044.

4 Funderburk JS, Cross WF, West J, Kearney LK, Dollar K, Giannone A, et al. Patient-Centered Suicide Prevention Care Delivery Among Established Integrated Primary Care Providers. Crisis. 2025 Sep;46(5):285-292. Available from: https://doi.org/10.1027/0227-5910/a001011.

5 Comparcini D, Simonetti V, Tomietto M, Pastore F, Totaro M, Ballerini P, et al. The Relationship Between Nurses' Digital Health Literacy and Their Educational Levels, Professional Roles, and Digital Attitudes: A Cluster Analysis Based on a Cross-Sectional Study. J Clin Nurs. 2025 Jul;34(7):2885-2897. Available from: https://doi.org/10.1111/jocn.17484.

6 Mwogosi A, Kibusi S. Unveiling barriers to EHR implementation for effective decision support in tanzanian primary healthcare: Insights from practitioners. Health Informatics J. 2024 Oct-Dec;30(4):14604582241304698. Available from: https://doi.org/10.1177/14604582241304698.

Fomento: Esta pesquisa não recebeu financiamento.

Critérios de autoria (contribuições dos autores)

Todos os autores participaram da concepção do estudo, assim como na redação, revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Declaração de conflito de interesses

Nada a declarar.

 

Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447

Rev Enferm Atual In Derme 2025;99(4): e025142                

 Atribuição CCBY