MIME-Version: 1.0 Content-Type: multipart/related; boundary="----=_NextPart_01D82E26.5655D410" Este documento é uma Página da Web de Arquivo Único, também conhecido como Arquivo Web. Se você estiver lendo essa mensagem, o seu navegador ou editor não oferece suporte ao Arquivo Web. Baixe um navegador que ofereça suporte ao Arquivo Web. ------=_NextPart_01D82E26.5655D410 Content-Location: file:///C:/D8A83E54/1280-Textodoartigo-PT.htm Content-Transfer-Encoding: quoted-printable Content-Type: text/html; charset="windows-1252"
VIA AÉREA
AVANÇADA: SENTIMENTOS VIVENCIADOS POR PACIENTES NA PRÉ E PÓS EXTUBAÇÃO
ENDOTRAQUEAL
ADVANCED AIRWAY: FEELINGS EXPERIENCED BY PATIENTS IN PRE AND POST
ENDOTRACHEAL EXTUBATION
VÍA AÉREA
AVANZADA: SENTIMIENTOS EXPERIMENTADOS POR PACIENTES EN PRE Y POST EXTUBACIÓN
ENDOTRAQUEAL
Camila de Souza Oliveira1
Crysthianne Cônsolo de Almeida
Baricati2
Maria José Quina Galdino3
Márcia Eiko Karino4
Maynara Fernanda Carvalho Barreto5
Júlia Trevisan Martins6
1Enfermeira. M=
estre
em Enfermagem. Universidade Estadual de Londrina, Londrina-Paraná-Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9599-1924
2Enfermeira. D=
outora
em Enfermagem. Docente da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-Paran=
á-Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6810-8008
3Enfermeira. D=
outora
em Enfermagem. Docente da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Bandeir=
antes-Paraná-Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6709-3502
4Enfermeira. D=
outora
em Enfermagem. Docente da Universidade Estadual de Londrina, Londrina-Paran=
á-Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6582-2801
5Enfermeira. D=
outora
em Enfermagem. Docente da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Bandeir=
antes-Paraná-Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3562-8477
6Enfermeira. D=
outora
em Enfermagem. Docente da Universidade Estadual de Londrina,
Londrina-Paraná-Brasil. ORCID: https://orcid.org/00=
00-=
a>0001-=
a>6383-=
a>7981
Autor correspondente
Maynara Fernanda Carvalho Barreto
S/n Rodovia BR - 369, Bandeirantes - PR, 86360-=
000
Telefone: +55(43) 9 9613 2264
RESUMO
Objetivo: desvelar os sentimentos
vivenciados por pacientes internados em um pronto socorro no período pré e =
pós
extubação endotraqueal. Métodos:=
b>
pesquisa qualitativa desenvolvida com pacientes de um Hospital Universitári=
o do
Estado do Paraná, no primeiro semestre de 2017. A coleta de dados se deu por
meio de sete entrevistas semiestruturadas, que foram submetidas a análise de
conteúdo temática. Resultados:
identificaram-se quatro categorias temáticas que desvelaram sentimentos de =
uma
experiência traumática pela dor, falta de diálogo, desconhecimento do
profissional que estava prestando os cuidados, dificuldade de comunicação e
angústia. Considerações finais:
torna-se importante humanizar a assistência de maneira a perceber que o
paciente não é mais um corpo doente e, sim, um ser humano holístico que deve
ser atendido para além dos procedimentos meramente técnicos.
Palavras-chave: Intubação
ABSTRACT
Objective: =
to reveal the feelings experienced<=
/span>
by patients hospitalized in an
emergency room in t=
he period before and after <=
span
class=3DSpellE>endotracheal extubation. =
Methods: qualitativ=
e
research developed =
with
patients at a University Hospital in the State of Paraná, in the first half of 2017. Data collection took place through seven semi-structured int=
erviews,
which were subjected to thematic being who must be attended to beyond merely technical procedur=
es.
Keywords: Intubation, Intratracheal=
; Respiration, Artificial; Emotion=
s;
Emergency Medical Services; Qualitative
Research.
RESUMEN
Objetivo: revelar los sentimientos experimentados por pacientes hospitaliza=
dos en
una sala de urgencias en el período pre y post extubación
endotraqueal. Métodos: investi=
gación
cualitativa desarrollada=
span> con pacientes de un Hospi=
tal Universitario del Estado de Paraná, en el primer seme=
stre
de 2017. La recolección de datos
ocurrió a través de siete<=
/span>
entrevistas semiestructuradas, que fueron sometidas a análisis de c=
ontenido
temático. Resultados: se identificaron cuatro categorías temáticas que revelar=
on
sentimientos de una experiencia traumática por =
dolor, falta de diálogo, descono=
cimiento
del profesional que atendí=
a,
dificultades de comunicaci=
ón
y angustia. C=
onsideraciones finales:=
es
importante humanizar el cuidado para comprender=
que
el paciente ya no es un cuerpo enfermo, sino un s=
er
humano holístico que debe ser atendido más allá de procedimientos me=
ramente
técnicos.
Palabras clave: Intubación Intratraqueal; Respiración
Artificial; Emociones; Servicios Médicos de
INTRODUÇÃO
A intubação endotraqueal consiste na
introdução de um tubo na traqueia por via nasal ou oral, sendo um procedime=
nto
indicado para casos de emergência, nos quais existe a necessidade de manter=
a
permeabilidade das vias aéreas.1
As dificuldades de comunicação fazem c=
om
que, muitas vezes, os pacientes submetidos ao procedimento de intubação
endotraqueal vejam sua expressão de opinião anulada, além da existência de
tomada de decisões sobre seu tratamento sem seu conhecimento, o que acarreta
sentimentos de inutilidade e estresse. Desta forma, a dificuldade de
comunicação sentida pelos pacientes em ventilação mecânica é um problema at=
ual,
e podem ser amenizadas com a utilização de programas de suporte à comunicaç=
ão
verbal e não verbal desenvolvida por equipes multiprofissionais.2
Valorizar o quadro clínico é essencial,
porém não se deve perder de vista suas percepções e sentimentos dos pacient=
es,
bem como de seus familiares. Para isso, tem-se a comunicação como uma
ferramenta importante a ser utilizada pelos profissionais de saúde.3=
sup>
O aumento da conscientização por parte=
de
todos os profissionais de saúde que cuidam diretamente dos pacientes é de
fundamental importância, para que a prestação de cuidados se torne cada vez
mais individualizada e ajustada, o que garante a valorização e a inclusão da
pessoa hospitalizada nos seus cuidados, e assistir ao paciente de maneira
integral, buscando não valorizar de sobremaneira os procedimentos técnicos.=
4
Os pacientes com intubação endotraquea=
l precisam
de desmame da ventilação mecânica (VM), isto é, a liberação do paciente de =
um
suporte ventilatório mecânico. Desta maneira, o desmame não é o mesmo que
extubação, que pode ser vista como o resultado do desmame. Durante o proces=
so
de desmame é necessário priorizar estratégias e critérios, incluindo avalia=
ção
dos parâmetros ventilatórios, clínicos e bioquímicos.5
Diante das considerações acima e da
escassez de estudo sobre a temática relacionada aos sentimentos de paciente=
s no
período pré e pós extubação, acredita-se que este estudo é relevante, visto=
que
contribuirá para que a equipe de enfermagem e outros profissionais de saúde
reflitam sobre a importância da comunicação com os pacientes, bem como pass=
em a
ver o paciente integralmente, isto é para além dos procedimentos técnicos. =
Assim sendo têm-se a seguinte indagaçã=
o:
Quais os sentimentos dos pacientes que vivenciaram o processo de extubação
endotraqueal? Para responder a esse questionamento traçou-se como objetivo =
desvelar
os sentimentos vivenciados por pacientes internados em um pronto socorro no
período pré e pós extubação endotraqueal.
MÉTODOS
Estudo
qualitativo realizado com pacientes submetidos à intubação endotraqueal com
posterior procedimento de extubação em um pronto socorro de um Hospital
Universitário. Trata-se de um hospital de ensino, o terceiro maior da região
sul do Brasil, composto por 306 leitos, todos destinados ao Sistema Único de
Saúde (SUS), no qual atende todas as especialidades médicas de adultos e
crianças.
Os
critérios de inclusão foram: pacientes extubados no
pronto socorro há, no mínimo, 6 horas, que relataram memória de algum momen=
to
do processo de intubação, maiores de 18 anos, com pontuação entre 17 e 27 no
Mini Exame do Estado Mental (MEEM). A coleta de dados foi realizada entre os
meses de maio a julho de 2017, identificando-se que 33 pacientes foram
submetidos ao procedimento de extubação. Desses, 15 (45,5%) não apresentaram
nível de consciência suficiente para serem entrevistados, 8 (24,3%) não
mantinham lembranças relacionadas ao procedimento de intubação, 3 (9%)
receberam alta hospitalar antes da avaliação para possível entrevista. Assi=
m, 7
(21,2%) se enquadravam nos critérios de inclusão do estudo e foram selecion=
ados
como participantes da pesquisa.
Foram coletados dados sociodemográfico=
s nos
prontuários dos pacientes (idade, motivo da internação, motivo e duração da
intubação, e o tempo de despertar) e realizadas entrevistas individuais uti=
lizando-se
a seguinte questão norteadora: Conte-me que sentimentos você vivenciou quan=
do
estava intubado e após a extubação. As entrevistas tiveram em média 35 minu=
tos
de duração e foram audiogravadas e transcritas =
na
íntegra.
Os
dados foram analisados e interpretados seguindo a técnica de Análise de
Conteúdo6 com as seguintes etapas: pré-anál=
ise,
exploração do material e tratamento dos resultados. Na pré-análise
ocorreu a organização do material, isto é, realizou-se leitura flutuante da=
s entrevistas
com a finalidade de identificar as particularidades de cada entrevistado que
contribuíram para a elaboração das ideias iniciais. Na sequência, passou-se
para a fase de exploração do material, ou seja, procedeu-se a execução da
codificação das entrevistas letra e número, de maneira que os recortes que
interessaram ao estudo foram agrupados em núcleos de sentido análogos e que
originaram as categorias. Por fim, deu-se o tratamento dos resultados, no q=
ual
os resultados brutos foram tratados de maneira significativa e válida, have=
ndo
análise e uma discussão dessas falas provenientes das entrevistas.
Esta
pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Estadual de Londrina, com obtenção de parecer favorável para s=
ua
realização (CAAE nº 66237717.0.0000.5231). Para preservar o anonimato dos
participantes suas falas foram identificadas com a letra E seguida do númer=
o da
entrevista.
RESULTADOS
Participaram do estudo sete pacie=
ntes,
dos quais seis eram do sexo masculino e a média de idade foi de 41,5 anos. =
A duração
da intubação foi de 125,1 horas em média, o tempo de despertar (retirada da
sedação até o momento da extubação) foi de 44,4 horas, em média. A seguir, o
quadro 1 mostra os dados relacionados à idade, motivo da internação, motivo=
e
duração da intubação, e o tempo de despertar dos pacientes entrevistados.
Quadro
1 -
Caracterização dos participantes da pesquisa. Brasil, 2017.
|
Idade |
Motivo
da internação |
Motivo
da intubação |
Duração |
Despertar |
E1 |
59 |
Infarto
agudo do miocárdio |
Rebaixamento
do nível de consciência pós PCR* |
192
horas |
72
horas |
E2 |
50 |
Queimadura |
Insuficiência
respiratória |
13
horas |
13
horas |
E3 |
17 |
Cetoacidose
diabética |
Rebaixamento
do nível de consciência |
12
horas |
12
horas |
E4 |
18 |
Suspeita
de H1N1 |
Insuficiência
respiratória |
192
horas |
36
horas |
E5 |
27 |
Intoxicação
exógena com psicotrópicos |
Rebaixamento
no nível de consciência pós crise convulsiva |
144
horas |
72
horas |
E6 |
62 |
Edema
agudo de pulmão |
Insuficiência
respiratória |
11
horas |
10
horas |
E7 |
60 |
PCR* |
Rebaixamento
do nível de consciência pós PCR* |
312
horas |
96
horas |
*Parada Cardiorrespira=
tória
Fonte:
Os autores
Das entrevistas, surgiram quatro categ=
orias
temáticas apresentadas na sequência:
1. Sentimentos de
angústia vivenciado com a intubação endotraqueal
Nesta categoria os pacientes revelam os
sentimentos vividos assim que retomaram o nível de consciência, conforme mo=
stra
as falas:
Deus
que me defenda! Não desejo nem para um cachorro o que eu sofri. É uma angús=
tia
só. Nem sei falar o tamanho desta angústia, impotência diante da situação, =
não
podia fazer nada.
(E1).
Passando
mal, um desespero, coisa ruim, uma angústia o tempo todo. É como um carro q=
ue
você está guiando e de repente você só esconde a cabeça e deixa que vai e e=
sse
carro chega lá na frente e bate. Senti desespero, incapacidade total. (E2)
Senti
afobação. É como se um monte de fio mesmo estivesse dentro de mim, como se a
pessoa puxasse e tivesse saindo todos os órgãos junto, como se fosse uma
pescaria. Uma angústia sem tamanho. (E4)
Uma
sensação esquisita de muita angústia. Eu pensava que estava engasgado com
alguma coisa e não saia. (E6)
2. Sentimentos de
desorientação temporal devido à sedação
Os pacientes verbalizaram que além de
sensações ruins, o processo de sedação e o procedimento de intubação também
causaram desorientação temporo-espacial:
Eu
dormi de novo, não sei se eu dormi ou desmaiei, mas eu acho que eu desmaiei,
porque quando eu acordei, eu percebi que estava com vários médicos perto de
mim, mas eu não sabia se era dia ou noite e nem onde estava. (E3)
Eu
perdi a noção de dia e noite e onde eu estava. Mas depois falaram que eu es=
tava
no hospital, aí que foi cair a minha ficha. (E6)
3. Frustração na=
s tentativas
de comunicação verbais e não verbais devido a intubação
Os depoentes afirmaram que era muito r=
aro
alguém conversar, explicar alguma coisa tanto pela voz, quanto por sinais. =
Os
mesmos também relatam que tiveram enormes dificuldades para comunicar-se. É=
o
que revela as seguintes falas:
Eu
tentava, mas ninguém conseguia me entender. Falavam que não era para eu
prosear. Além do que, ninguém me compreendia com os gestos. Eu pedia um cop=
inho
de água mostrando com sinais porque não saía a voz, mas ninguém compreendia.
Daí veio alguém e falou se eu queria cachaça e riu. Mas Deus é bom e veio u=
ma
moça e eu disse para ela vir pertinho, fiz sinal e ela compreendeu. Tem anj=
os
ainda que cuidam da gente. (E1)
Eu
até tentava falar, mão não conseguia falar nada, não tinha mais voz e fazer
sinal não dava, eu estava amarrada. (E3)
Não
dava para falar porque eu tentava falar só que parecia que o tubo entrava m=
ais
para dentro, machucava mais por dentro, a garganta doía, o pulmão parecia q=
ue
estava sendo puxado para fora. Sabe as pessoas falavam com a gente muito po=
uco
e nem gestos eu podia fazer porque estava amarrado. (E4)
Por
causa da mangueira [tudo
endotraqueal] eu não falava, eu dava
sinal quando eles me soltavam para tirar aquela mangueira de mim. A garganta
estava entalada. Os médicos e as enfermeiras não falavam com a gente, só
falavam: se acalma. (E6)
Eles
não compreendiam nada! Aí eu pedi um copinho de água, porque não saía a fal=
a,
ninguém compreendia! Veio outra pessoa, aí eu fiz sinal que queria pegar o =
copo
com água, mas essa pessoa me faltou com respeito, perguntou para mim: É cac=
haça
que você quer? Veio uma outra pessoa e eu disse para ela vir pertinho, fiz =
sinal
porque eu não podia falar, aí ela compreendeu. (E7)
4. As vivências no
processo de extubação endotraquel
Os pacientes relataram como o processo=
foi
intenso, dolorido e sem muitas explicações, inclusive não conseguiam
diferenciar o profissional que prestava cuidados. As falas mostram essa
realidade:
Eu
acordei com vários médicos (acho que era) perto de mim. Aí eles só falaram:
tosse! Aí eu tossi e eles me desintubaram. Foi
dolorido, dor horrível, fiquei bem assustado. (E3)
Tinha
um monte de pessoas que eu não sei quem eram. Só tiraram o tubo, ninguém fa=
lou
o que estava acontecendo, não chegaram nem conversar, foi horrível e intens=
o. (E4)
Doeu,
o sangue estava agarrado naquela mangueira. Foi algo ruim, esquisito, horrí=
vel.
Até hoje escarro um pouco de sangue, pode ser que tenha machucado né? A
mangueira estava bem suja de sangue quando tiraram. (E6)
DISCUSSÃO
A doença arterial coronariana (DAC), c=
omo
exemplo o infarto agudo do miocárdio, representa a principal causa de óbito=
no
mundo e maior impacto clínico e financeiro nas instituições hospitalares. A=
DAC
quando ocasionada pela obstrução do fluxo sanguíneo torna-se ineficiente pa=
ra
determinada região do miocárdio, desencadeando o desequilíbrio entre a ofer=
ta e
o consumo de oxigênio, sendo necessário, em alguns casos, o uso do suporte
ventilatório para evitar a morte.7
Para o traumatizado por queimadura dev=
e-se
sempre admitir a possibilidade de intubação endotraqueal, visto que as
condições são difíceis devido ao edema facial, laceração de partes moles, t=
umescência
das vias aéreas superiores por inalação tanto de vapor, quanto de monóxido =
de
carbono ou cianeto. Ressalta-se também a diminuição do fluxo coronariano e,
consequentemente, a diminuição da contratilidade cardíaca no período
pós-queimadura, eventos que, muitas vezes, levam a intubação endotraqueal.<=
sup>8
Com relação à cetoacidose diabética, e=
sta
é considerada uma complicação que pode ter efeitos agudos graves, e com
complicações crônicas debilitantes.9 Dessas complicações, um dos
procedimentos necessários ao paciente é a intubação endotraqueal.10 =
sup>Já
para a H1N1, muitos são os tratamentos, os quais incluem o suporte ventilat=
ório
e oxigenação por membra extracorpórea.11
No que diz respeito à intoxicação exóg=
ena
ela ocorre devido a uma consequência clínica causada pela exposição às
substâncias químicas encontradas no ambiente ou isoladas. O tratamento em
situações de intoxicação quando o paciente evolui com rebaixamento do nível=
de
consciência ou diminuição da frequência respiratória é a intubação endotraq=
ueal.12
Com relação ao edema agudo de pulmão é=
uma
síndrome clínica grave ocasionada pelo enchimento alveolar por líquidos, o =
que
dificulta a hematose.13 É um problema muito comum nos serviços de
urgência e emergência por ocorrer a deterioração das trocas gasosas, sendo =
necessária,
algumas vezes, a utilização da ventilação invasiva.14
No que concerne à parada
cardiorrespiratória (PCR), apesar dos avanços relacionados à prevenção e
tratamento, a evolução para o óbito ainda é grande. Dessa maneira, o proced=
imento
de intubação endotraqueal nessas situações é essencial para salvar vidas e =
diminuir
sequelas.15
Durante o desmame devido a ventilação
mecânica a necessidade básica do paciente foi o atendimento contínuo que se=
desdobra
em monitoramento ininterrupto, estáveis, abrangentes e dinâmicos com respos=
ta
imediata a mudanças fisiológicas e psicológicas.16
A insegurança sentida ao acordar e se
deparar com a ventilação mecânica foi identificada em estudo, no qual indic=
ou
sentimentos como incapacidade, perda de controle sobre si mesmo e traz o
hospital como um local onde não é possível se preservar a identidade e indi=
vidualidade.17
Estudo reali=
zado
na Dinamarca com o objetivo de explorar as experiências dos pacientes de
estarem acordados durante a VM na unidade de terapia intensiva, concluiu que
estar acordado durante a ventilação mecânica implicou novas oportunidades e
desafios para pacientes criticamente doentes. Os pacientes encontraram-se na
interface entre o poder e a impotência, pois podiam interagir, mas eram ati=
ngidos
por fatores como fraqueza corporal, tecnologia, posição espacial e aspectos
relacionais.18
Experiências de pacientes intubados
revelam que os mesmos vivenciam sentimentos ambíguos de doença, exaustão,
confusão, dificuldade em respirar e outros, como lutar para recuperar a
respiração, o corpo, a vida, a família e tudo que lhe era significativo.
Imagens e bons sonhos representam um forte amparo na superação destas
experiências.19
Destaca-se que é preciso manter a famí=
lia
no momento em que a sedação é desligada e a consciência é retomada, assim o
paciente pode se sentir acolhido e seguro sabendo que está com um ente quer=
ido,
o que diminui possíveis problemas psicológicos.20
Na Suécia, os
participantes de uma pesquisa que tinha por objetivo descrever as experiênc=
ias
de pacientes submetidos a VM relataram que não se fazer compreendido levou a
sentimentos de pânico e frustração. Também ao acordar referiram desconforto=
por
ter o tubo na garganta e sede, sentiram que seus corpos eram fracos, parali=
sados
e isso levou ao sentimento de dependência dos outros, bem como a sensação de
desorientação no tempo.21
Outro estudo indicou que ao acordar
intubado e ventilado, os pacientes descrevem tal situação como assustadora,
além do fato de que não conseguir se comunicar os leva a sentimentos de est=
arem
presos em um corpo disfuncional, pois, de acordo com suas falas, eles
conseguiam entender tudo o que lhes era dito, mas não tinham disponível
qualquer ajuda à comunicação para conseguirem responder de forma eficaz e j=
ulgam
que houve falta de humanização nessa relação.22
Enfatiza-se que é de fundamental
importância a relação entre o paciente e a equipe, principalmente em situaç=
ões em
que o ventilador mecânico impede a comunicação verbal. O fato de não poder
falar e de perceber que está em um ambiente diferente, principalmente por s=
er
um hospital, faz com que o paciente se torne inseguro e angustiado. É
necessário que a interação e a percepção, principalmente do profissional de
saúde, sejam maiores para que a compreensão seja a mais completa possível.
Apesar da comunicação não ser verbalizada por parte do paciente, acredita-se
que pode haver o desenvolvimento de um relacionamento terapêutico fundament=
ado
na confiança e no respeito mútuo.23
A comunicação, seja verbal ou não verb=
al,
se configura em um instrumento para promoção de um cuidado humanizado. Assim
sendo, ajuda a promover o cuidado emocional, considerando uma habilidade de
entender o invisível, ou seja, o que muitas vezes não se pode notar ou
perceber, pois isso exige sensibilidade em relação às manifestações verbais=
e
não verbais do paciente, que possam indicar aos profissionais de saúde,
principalmente o enfermeiro, as necessidades individuais de cada ser humano=
, isto
é, vê-lo de forma holística.24
Um estudo apontou que a comunicação não
verbal é essencial para o paciente, além de ser uma estratégia para reduzir=
o
medo, a angústia e passar segurança aos mesmos. Neste mesmo estudo, foi
apontado que apesar dos pacientes estarem sedados e privados da comunicação=
verbal,
os mesmos fazem uso de expressões faciais na tentativa de estabelecer uma
comunicação de forma não verbal.25
Em uma fala do presente estudo, pode-se
identificar a falta de habilidade do profissional ao gesticular para o paci=
ente
se o mesmo queria bebida alcoólica, quando o paciente sinalizava solicitando
água. Os profissionais precisam refletir, tomar consciência e perceber a fo=
rma
como tratam e relacionam-se com os pacientes. É preciso estar desperto e at=
ento
para a necessidade de comunicação com os mesmos, situá-los e cuidar com
respeito, comunicando sempre, independente do seu nível de consciência.26
Relativo à contenção física, com a
humanização das práticas do cuidar e legislações voltadas para a segurança =
do
paciente, a contenção é utilizada de forma terapêutica e não como repressão=
, ou
seja, deve ser realizada quando o paciente oferece risco a si mesmo e à equ=
ipe
de saúde.27 Ressalta-se a importância de que se explique ao paci=
ente
a razão pela qual está se tomando tal cuidado, mesmo que você julgue que o =
paciente
não está entendendo tal situação.
Para tornar o procedimento de extubação
mais humanizado é necessário a criação de protocolo contendo os profissiona=
is
responsáveis pelo processo de extubação do paciente, bem como a sistematiza=
ção
deste processo.28 A dor também foi verbalizada pelos entrevistad=
os
do presente estudo. A dor é uma das principais queixas dos pacientes
hospitalizados em leitos de UTI. Uma pesquisa indicou a dor como principal
desconforto causado pela extubação.21
CONSIDERAÇÕES FINAIS<= o:p>
Para todos os entrevistados, o desconf=
orto
foi unânime, mesmo com diversos profissionais presentes durante o processo =
de
pré e pós extubação, os sentimentos foram de uma experiência traumática, qu=
er
seja pela dor, falta de diálogo, desconhecimento do profissional que estava
prestado os cuidados, dificuldade de comunicação, angústia e até de morte. =
É de
importância ímpar humanizar a assistência de maneira a perceber que o pacie=
nte
não é mais um corpo doente, e sim, um ser humano holístico que deve ser cui=
dado
para além dos procedimentos técnicos.
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ORIGINAL