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SOFRIMENTO
MENTAL E CONSUMO DE PSICOTRÓPICOS POR TRABALHADORES DA SAÚDE NO CENÁRIO DA
COVID-19
MENTAL SUFFERING AND CONSUMPTION OF
PSYCHOTROPICS BY HEALTH WORKERS IN THE COVID-19 SCENARIO
=
SUFRIMIENTO
MENTAL Y CONSUMO DE PSICOTRÓPICOS POR PARTE DEL PERSONAL DE SALUD EN EL
ESCENARIO COVID-19
<=
span
style=3D'font-size:12.0pt;font-family:"Times New Roman",serif;color:black'>=
Ítalo Arão Pereira Ribeiro1
Márcia A=
strês
Fernandes3
1Doutorando em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermage=
m da
Universidade Federal do Piauí (PPGEnf/UFPI),
Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447. E-mail: italoaarao@hot=
mail.com
3Doutora em Ciências (Enfermag=
em
Fundamental) pela Universidade de São Paulo (USP). Docente Associada do
Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (UFPI). =
Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: htt=
ps://orcid.org/0000-0001-9781-0752.
E-mail: m.astres@ufpi.edu.br
Autor correspondente
Ítalo Arão Pereira Ribeiro=
– Rua
São Leonardo, 2270 – Uruguai/ CEP: 64.073-063. Teresina, Piauí, Brasil. E-m=
ail:
italoaarao@hotmail.com
<=
span
style=3D'font-family:"Times New Roman",serif;color:black'>
<=
span
style=3D'font-family:"Times New Roman",serif;color:black'>
A rápida dissemin=
ação
pandêmica da COVID-19, provocada pelo novo coronavírus
(SARS-CoV-2), trouxe a necessidade do distanciamento social como a melhor forma de
combatê-lo, causando grandes transformações e requerendo adaptações, em mei=
o a
sérias consequências, para o convívio social, rotina, economia e sistemas de
saúde, que têm entrado em colapso, em virtude dos elevados números de
internações e pessoas carecendo de cuidados intensivos. Entretanto, esse fe=
nômeno
e seus danos transpõem a doença física(1)
e acaba afetando, também, o equilíbrio mental dos trabalhadores de saúde,
principalmente daqueles que trabalham diariamente com os problemas de saúde
relacionados à COVID-19.
Pesquisas sobre os
efeitos da COVID-19 na saúde mental, embora, não tenham sido pouco estudado=
s de
forma sistematizada(1), ap=
ontam
que os trabalhadores da saúde, em especial, médicos e a equipe de enfermage=
m,
compõem um segmento populacional muito vulnerável ao sofrimento mental ness=
e período.
Sinais e sintomas ansiosos-depressivos, estresse e bur=
nout
têm sido mais acentuados durante a crise pandêmica, sendo responsáveis por
diversos afastamentos laborais(<=
span
style=3D'background:white'>2) e, notoriamente, ao aumento do c=
onsumo
de psicotrópicos (ansiolíticos/antidepressivos), prescritos ou por
automedicação.
Estudo(2)
realizado com 230 equipes médicas na China mostrou que, durante a epidemia =
de
COVID-19, a incidência de transtorno de ansiedade atingiu 23,04% (53) e estresse 27,39% (=
63),
consideravelmente altas entre a equipe médica. Quando comparados aos índice=
s de
ansiedade manifestados pelos enfermeiros, estes apresentaram incidência mais
elevada ainda, 26,88% (43/160). Depressão, estresse e ansiedade foram as
principais causas relatadas pelos profissionais da saúde como razões para o
consumo de substâncias psicotrópicas, seja para o tratamento ou como estratégia ado=
tada,
muitas vezes, sem indicação médica, para o alívio das tensões acumuladas em
virtude do exercício laboral(3).
As atividades
desenvolvidas pelos trabalhadores de saúde são rotineiramente exaustivas,
sobrecarga de trabalho, excesso de carga horária, condições de trabalho nem
sempre adequadas, dentre outras situações que os vulne=
rabilizam
ao consumo de certas substâncias (4). Um ambiente com carga acentuada de estresse transforma-se em fonte
geradora de sofrimento mental, comprometendo a qualidade de vida dos
trabalhadores, o que contribui, sobremaneira, para o consumo de psicotrópic=
as
como forma de alívio das perturbações originadas pelo ambiente ocupacional(5).
Em pesquisa brasileira, foram observad=
os
esses aspectos psicossomáticos em 289 trabalhadores de saúde de diferentes
categorias profissionais, 97 (23,6%) faziam uso de alguma substância
psicotrópica por motivos relacionados à depressão, estresse, ansiedade, can=
saço
mental e insônia, dos quais associavam o seu desencadeamento ao ambiente de
trabalho, sendo o consumo mais prevalente, respectivamente, entre os
profissionais técnicos em enfermagem, médicos e enfermeiros (4).=
Em outras epidemias causadas pelo Sars, profissionais de saúde que atuaram em hospitais
chineses relataram sofrer de depressão, ansiedade, medo e sensação de
frustração cotidianamente. No Japão, profissionais afirmaram que, após o su=
rto
por Sars, por todo estresse sofrido na linha de
frente assistencial, passaram a consumir mais substâncias psicoativas com
intuito de diminuir o sofrimento, sensações e sentimentos gerados pela vivê=
ncia
da pandemia(6).
Nesse cenário atual da COVID-19, aflor=
am
as incertezas, angústias, medo de contaminação pelo novo coronavírus,
tristeza pela perda de familiares, amigos, colegas de trabalho e pacientes.=
Sem
mencionar as questões relacionadas ao estigma e medo pela sociedade e
familiares, por manterem um contado direto com o vírus cotidianamente, acar=
retando
sentimentos com emoções mistas ou ambivalentes, estresse e até mesmo sentim=
ento
de culpa. Fatos que corroboram e
potencializam o aumento crescente do sofrimento mental entre esses
profissionais ou agravando entre aqueles que já possuem algum tipo de transtorno(1)=
.
Outro fato que tem sido evidenciado é a
insatisfação laboral advinda não só do desgaste físico e mental, das jornad=
as
de trabalho ou da má remuneração, mas de condições básicas para execução do
trabalho de forma segura e do medo de estarem contaminados devido à escasse=
z de
Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)=
, como
descrito no estudo realizado no Irã com médicos, enfermeiros e técnicos, em=
que o acesso da equipe de saúde aos EPIs previa =
menor
sofrimento, melhores condições de saúde física e mais satisfação no trabalh=
o.
Entre os funcionários que não tinham certeza se estavam protegidos ou se ti=
nham
o COVID-19, estavam mais angustiados, ansiosos e menos satisfeitos com o trabalho(7).
A insatisfação la=
boral
é um dos principais fatores associados ao consumo de substâncias psicotrópi=
cas,
por trabalhadores de saúde, como apontado em pesquisa realizada com
trabalhadores de saúde da rede hospitalar, em que 40 (13,8%) dos participan=
tes
que foram classificados com baixo grau de satisfação laboral apresentaram
riscos quatro vezes maiores (OR =3D 4,05 IC95% 1,15-14,26) para o consumo de
substâncias psicotrópicas quando comparados aos classificados com alto grau=
de
satisfação(4).
Ao reconhecer os fatores capazes de
impactar a Saúde Mental dos profissionais de saúde durante a pandemia deve-=
se
pensar que, quanto mais prolongada for, mais demandas referentes à síndrome=
de Burnout podem surgir, fenômeno psicossocial que emerg=
e como
resposta aos estressores interpessoais crônicos presentes no trabalho(8). Esses estressores apresentam uma séria =
ameaça
à saúde mental dos profissionais, elevando as taxas de ansiedade, depressão,
transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e comportamentos sociais
negativos, o que pode implicar na eficácia da jornada de trabalho desses
profissionais (6).
Os impactos da COVID-19 na saúde mental
dos profissionais de saúde ainda são imensuráveis, porém, estudo populacion=
al
afirma que as consequências psicológicas e mentais dessa pandemia podem
refletir e se estender aos anos posteriores ao período do surto(9),
sendo responsável pelo surgimento de diversos transtornos como depressão,
estresse pós-traumático, ansiedade e outros, que irão, consequentemente,
ocasionar o aumento expressivo da busca de alívio pelo consumo de substânci=
as psicotrópicas
(5).
Dessa forma, busc=
ar
compreender a relação entre o ambiente de trabalho com a presença ou ameaça=
da
COVID-19 e o uso de substâncias psicotrópicas, são de extremo interesse par=
a a
área da saúde do trabalhador, uma vez que, estudos que discutem esse fenôme=
no
no Brasil ainda são incipientes. Portanto, chama-se atenção para importância da atenção à saúde mental dos
trabalhadores de saúde em face da COVID-19, com vistas ao melhor
bem-estar e qualidade de vida dos trabalhadores, que se refletirá, por
conseguinte, na prestação de cuidados mais seguros à população geral.
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